sábado, 30 de novembro de 2013

O ano de 2015 será dedicado à vida consagrada!




Ladainha do Imaculada


Senhor, tende piedade de nós
Jesus Cristo, tende piedade de nós
Senhor, tende piedade de nós
Jesus Cristo, ouvi-nos
Jesus Cristo, atendei-nos

Deus Pai, que preparastes uma digna morada para o Vosso Filho pela Imaculada Conceição, tende piedade de nós

Deus Filho, que resgatastes a Vossa Mãe pela aplicação antecipada dos Vossos méritos, tende piedade de nós

Deus Espírito Santo, que vivificastes Maria desde a Sua Imaculada Conceição, tende piedade de nós

Santíssima Trindade, que predestinastes Maria na Sua Imaculada Conceição antes de todos os séculos, tende piedade de nós

A PARTIR DAQUI RESPONDE-SE: ROGAI POR NÓS QUE RECORREMOS A VÓS

Maria, concebida sem pecado, Filha querida do Pai Eterno,
Maria, concebida sem pecado, digníssima Mãe do Filho de Deus,
Maria, concebida sem pecado, Virgem puríssima e Esposa do Espírito Santo,
Maria, enriquecida de todos os dons sobrenaturais na Vossa Imaculada Conceição,

Maria, que sois a única entre todas as criaturas que fostes preservada do pecado original,
Maria, ornada, na Vossa Imaculada Conceição, da plenitude das graças,
Maria, a quem a prerrogativa da Vossa Imaculada Conceição dá a preeminência sobre todo o ser criado,
Maria, que desde que entrastes no mundo parecestes sempre como o Sol à medida que avança no horizonte,
Maria, que pela Vossa Imaculada Conceição, fostes preservada da tripla concupiscência,
Maria, toda bela e sem mancha
Maria, Santuário da Sabedoria Encarnada,
Maria, Mãe do Bom Conselho,
Maria, Mãe da Boa Esperança,
Ó Maria, Mãe do Bom Socorro,
Ó Maria, Mãe da graça,
Ó Maria, Mãe da doce consolação,
Ó Maria, Mãe do belo amor,
Ó Maria, Aurora do mais belo dos dias,
Ó Maria, Lírio de pureza mais branco que a neve,
Ó Maria, nova Eva, que esmagastes a cabeça da serpente,
Ó Maria, cuja imaculada Conceição faz a glória e a felicidade da igreja triunfante e militante,
Ó Maria, que inundais de alegria o coração dos vossos filhos,
Ó Maria, cujo Nome está cheio de doçura e de bênção,
Ó Maria, modelo da vida de fé, de esperança e de amor,
Ó Maria, torre inexpugnável aos inimigos da nossa salvação,
Ó Maria, Mãe de Jesus e sempre virgem, Mãe imaculada,
Ó Maria, Depositária e Dispensadora das graças que Jesus concede aos cristãos,
Ó Maria, Esperança e Consolação dos aflitos, dos doentes e dos moribundos,
Ó Maria, Protetora poderosíssima e liberalíssima para com os que Vos invocam,
Ó Maria, que depois de Jesus sois toda a alegria e toda a felicidade dos pobres filhos de Adão,
Ó Maria, Porta radiosa da glória e das delícias do Paraíso,
Ó Maria, Arco-iris da glória e do esplendor dos bem-aventurados no Céu,
Ó Maria, cujo Coração foi inundado por um oceano de dor ao pé da cruz,
Ó Maria, concebida sem pecado, atraí-nos pelo perfume das Vossas virtudes e conduzi-nos ao Céu,

Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos Senhor
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos Senhor
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós Senhor

V. Vós fostes concebida sem pecado, ó Virgem Maria
R. Rogai por nós a Deus Pai, de Quem Vós gerastes Deus Filho

OREMOS – Ó Deus, que pela Imaculada Conceição da Santíssima Virgem Maria preparastes para o Vosso Filho uma digna morada no Seu seio virginal e que A preservastes de toda a mancha para honra deste mesmo Filho.

Dignai-Vos, nós Vos suplicamos, fazer-nos a graça, pela Sua intercessão, de nos purificar de todo o pecado, de nos preservar de toda a dívida e de nos ajudar a imitar as Suas virtudes, a fim de que alcancemos a felicidade de Vos possuir eternamente. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus conVosco na unidade do Espírito Santo. Amem.





NOVENA DA IMACULADA. 30 DE NOVEMBRO. PRIMEIRO DIA DA NOVENA

44. ESTRELA DA MANHÃ
– Maria, prefigurada e anunciada no Antigo Testamento.
– Nossa Senhora, luz que ilumina e orienta.
– “Estrela do mar”.
O povo cristão, por inspiração do Espírito Santo, sempre soube aproximar-se de Deus através da sua Mãe. Pelas provas constantes das suas graças e favores, chamou-a Onipotência suplicante, e soube encontrar nEla o atalho que abrevia o caminho para Deus. O amor “inventou” numerosas formas de tratá-la e honrá-la. Hoje começamos esta Novena, em que procuraremos oferecer todos os dias algo de especial a Nossa Senhora, para preparar a Solenidade da sua Imaculada Conceição.
I. APARECEU UMA ESTRELA no meio da escuridão e anunciou ao mundo em trevas que a Luz estava para chegar. O nascimento da Virgem foi o primeiro sinal de que a Redenção estava próxima. “A aparição de Nossa Senhora no mundo é como a chegada da aurora que precede a luz da salvação, Cristo Jesus; é como o desabrochar sobre a terra da mais bela flor que alguma vez brotou no jardim da humanidade: o nascimento da criatura mais pura, mais inocente, mais perfeita, mais digna da definição que o próprio Deus deu do homem, ao criá-lo: imagem de Deus, semelhança de Deus. Maria restitui-nos a figura da humanidade perfeita”1. Nunca os anjos tinham contemplado uma criatura tão bela, nunca a humanidade terá nada de parecido.
A Virgem Santa Maria tinha sido anunciada ao longo do Antigo Testamento. Já nos começos da Revelação se fala dEla. No anúncio da Redenção, depois da queda dos nossos primeiros pais2, Deus dirige-se à serpente e diz-lhe: Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua posteridade e a dela. Ela te pisará a cabeça, e tu armarás ciladas ao seu calcanhar. A mulher é em primeiro lugar Eva, que foi tentada e sucumbiu; e, num nível mais profundo, a mulher é Maria, a nova Eva, de quem nascerá Cristo, absoluto vencedor do demônio simbolizado na serpente. Perante o seu poder, o demônio não poderá fazer nada de eficaz. NEla se dará a maior inimizade que se pode conceber na terra entre a graça e o pecado. O profeta Isaías anuncia Maria como a Mãe virginal do Messias3. São Mateus assinala expressamente o cumprimento desta profecia4.
A Igreja também aplica a Maria o elogio que o povo de Israel dirigiu a Judite, sua salvadora: Tu és a glória de Jerusalém, tu a alegria de Israel, tu a honra do nosso povo; porque procedeste varonilmente e o teu coração esteve cheio de coragem5. Palavras que se cumprem em Maria de modo perfeito. Porventura não colaborou Maria para nos livrar de um inimigo maior que Holofernes, a quem Judite cortou a cabeça? Não cooperou para nos livrar do cativeiro definitivo?6
A Igreja aplica ainda a Maria outros textos que, embora se refiram em primeiro lugar à Sabedoria de Deus, sugerem, no entanto, que, no plano divino da salvação, estabelecido desde a eternidade, está contida a imagem de Nossa Senhora. Ainda não havia os abismos, e eu já estava concebida; ainda as fontes das águas não tinham brotado7. E como se a Escritura se antecipasse, evocando o amor puríssimo que reinaria no seu Coração dulcíssimo, lemos: Eu sou a mãe do amor formoso, do temor, da ciência e da santa esperança. Vinde a mim, todos os que me desejais, e enchei-vos dos meus frutos; porque o meu espírito é mais doce que o mel [...]. Aquele que me ouve não será confundido; e os que se guiam por mim não pecarão8. E, vislumbrando a sua Conceição Imaculada, o Cântico dos cânticos anuncia: És toda formosa, amiga minha, e não há mancha em ti9. E o Eclesiástico anuncia de uma maneira profética: Em mim se encontra toda a graça de doutrina e de verdade, toda a esperança de vida e de virtude10. “Com quanta sabedoria a Igreja colocou essas palavras na boca da nossa Mãe, para que nós, os cristãos, não as esqueçamos! Ela é a segurança, o Amor que nunca abandona, o refúgio constantemente aberto, a mão que acaricia e consola sempre”11. Procuremos a sua ajuda e consolo nestes dias, enquanto nos preparamos para celebrar a grande solenidade da sua Imaculada Conceição.
II. DO MESMO MODO que Maria se encontra no alvorecer da Redenção, nos próprios começos da revelação, encontra-se também na origem da nossa conversão a Cristo, na nossa santidade e na nossa salvação. Por Ela chegou-nos Cristo, e por Ela chegaram-nos e continuarão a chegar-nos todas as graças que nos sejam necessárias.
A Santíssima Virgem facilitou-nos o caminho para recomeçarmos tantas vezes e livrou-nos de inumeráveis perigos, que por nós mesmos não teríamos podido vencer. Ela oferece-nos todas as coisas queconservava no seu coração12 e que dizem respeito diretamente a Jesus: “leva-nos pela mão ao encontro do Senhor”13. A humanidade encontrou em Maria o primeiro sinal de esperança, e todos os homens e mulheres encontram nEla a luz que ilumina e orienta. “Ela não tem brilho próprio, brilho que brote dEla mesma, mas reflete o seu e nosso Redentor, e dá-lhe glória constantemente. Quando surge no meio das trevas, sabemos que Ele está perto, ao alcance da nossa mão”14.
Diz-se que os navegantes recorriam à estrela mais brilhante do firmamento quando se sentiam desorientados no meio do oceano ou quando desejavam verificar ou retificar o rumo. Nós recorremos a Maria quando nos sentimos perdidos, quando queremos retificar a direção da nossa vida e orientá-la em linha reta para Deus: Ela é “a estrela do mar da nossa vida”15. A Liturgia chama-a “esperança segura de salvação”, que brilha “no meio das dificuldades da vida”16, dessas tempestades que aparecem sem sabermos como, ou em que nos metemos por não estarmos perto de Deus. E é São Bernardo que nos aconselha: “Não afastes os olhos do resplendor dessa Estrela, se não queres ser destruído pelas borrascas”17.
De Maria dimana uma luz especial que ilumina o caminho que devemos seguir nas diferentes tarefas e assuntos da nossa vida. De modo especial, Maria ilumina o esplêndido caminho da vocação a que cada um foi chamado. Quando recorremos a Ela com pureza de intenção, sempre acertamos no cumprimento da vontade de Deus.
A claridade especial que encontramos em Maria provém da plenitude de graça que cumulou a sua alma desde o primeiro instante em que foi concebida, bem como da sua missão corredentora. São Tomás assinala que essa graça se derrama sobre todos os homens. “Já é grande para um santo – afirma – ter tanta graça que seja suficiente para a salvação de muitos, e o máximo seria tê-la em medida suficiente para salvar todos os homens do mundo; isto verifica-se em Cristo, bem como na Santíssima Virgem”18, pela sua íntima união corredentora com o seu Filho.
Os teólogos distinguem a plenitude absoluta de graça, que é própria de Cristo; a plenitude de suficiência, comum a todos os anjos; e a plenitude de sobreabundância, que é privilégio de Maria, e que se derrama a mãos cheias sobre os seus filhos. A Virgem “é de tal maneira cheia de graça que ultrapassa na sua plenitude os anjos; por isso, com razão, é chamada Maria, que quer dizer iluminada [...], e significa, além disso, iluminadora de outros, por referência ao mundo inteiro”19, diz São Tomás de Aquino.
Hoje, neste primeiro dia da Novena da Imaculada, fazemos o propósito de pedir-lhe ajuda sempre que nos encontremos às escuras, sempre que tenhamos de retificar o rumo da nossa vida ou tomar uma decisão importante. E, como sempre estamos recomeçando, recorreremos a Ela para que nos mostre o caminho que devemos seguir, aquele que nos confirma na nossa vocação, e pedir-lhe ajuda para que possamos percorrê-lo com garbo humano e sentido sobrenatural.
III. A VIRGEM é bendita entre as mulheres porque esteve isenta do pecado e das marcas que o mal deixa na alma: “Apenas Ela conjurou a maldição, trouxe a bênção e abriu a porta do Paraíso. É por isso que lhe convém o nome de Maria, que significa Estrela do mar; assim como a estrela do mar orienta os navegantes até o porto, Maria dirige os cristãos para a glória”20. A Liturgia da Igreja honra-a assim: Ave, maris stella!... Salve, estrela do mar!, Mãe excelsa de Deus...21
Neste primeiro dia da Novena, fazemos o firme propósito – tão grato à Virgem! – de recorrer à sua intercessão em qualquer necessidade em que nos encontremos, seguindo o conselho de um Padre da Igreja: “Se se levantarem os ventos das tentações, se tropeçares com os escolhos da tentação, olha para a Estrela, chama por Maria. Se te agitarem as ondas da soberba, da ambição ou da inveja, olha para a estrela, chama por Maria. Se a ira, a avareza ou a impureza impelirem violentamente a nave da tua alma, olha para Maria. Se, perturbado com a lembrança dos teus pecados, confuso ante a fealdade da tua consciência, temeroso ante a idéia do juízo, começares a afundar-te no poço sem fundo da tristeza ou no abismo do desespero, pensa em Maria. Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria. Não se afaste Maria dos teus lábios, não se afaste do teu coração; e, para conseguires a sua ajuda intercessora, não te afastes tu dos exemplos da sua virtude. Não te extraviarás se a segues, não desesperarás se a chamas, não te perderás se nEla pensas. Se Ela segurar as tuas mãos, não cairás; se te proteger, não terás nada que temer; não te cansarás, se Ela for o teu guia; chegarás felizmente ao porto, se Ela te amparar”22. Pomos todos os dias da nossa vida sob o seu amparo. Ela nos levará por um caminho seguro. Cor Mariae dulcissimum iter para tutum, Coração dulcíssimo de Maria, preparai-nos um caminho seguro.
(1) Paulo VI, Homilia, 8-IX-1964; (2) Gên 3, 15; (3) Is 7, 14; (4) Mt 1, 22-23; (5) Jud 15, 9-10; (6) cfr. C. Pozo, María en la Escritura y en la fe de la Iglesia, págs. 32 e segs.; (7) Prov 8, 24; (8) Eclo 24, 24-30; (9) Cânt 4, 7; (10) Eclo 24, 25; (11) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 279; (12) Lc 2, 51; (13) cfr. João Paulo II, Homilia, 20-X-1979; (14) Card. J. H. Newman, Rosa mística, Palabra, Madrid, 1982, pág. 137; (15) João Paulo II, Homilia, 4-VI-1979; (16) cfr. Liturgia das Horas, Hino de laudes no dia 15 de agosto; (17) São Bernardo, Homilias sobre a Virgem Mãe, 2; (18) São Tomás,Sobre a Ave-Maria; (19) ib.; (20) ib.; (21) Hino Ave, maris stella; (22) São Bernardo,op. cit.
 (WEBSITE DE FRANCISCO FERNÁNDEZ CARVAJAL)

NOVENA DA IMACULADA. 1º DE DEZEMBRO. SEGUNDO DIA DA NOVENA
45. CASA DE OURO
– Santa Maria, Templo do Deus vivo, enriquecida pelos dons do Espírito Santo.
– Os dons do entendimento, ciência e sabedoria em Nossa Senhora.
– Os dons da prudência, piedade, fortaleza e temor de Deus.
I. BEM-AVENTURADA és tu, ò Virgem Maria, morada consagrada do Altíssimo...1
Na ladainha lauretana, chamamos a Maria Domus aurea, Casa de ouro, recinto de intensíssimo esplendor. Quando uma família mora numa casa e a converte num lar, este reflete as peculiaridades, gostos e preferências dos seus moradores. A casa e os que nela habitam constituem uma certa unidade, como o corpo e a roupa, como o conhecimento e a ação. No Antigo Testamento, o primeiro Tabernáculo, e depois o Templo, eram a Casa de Deus, onde tinha lugar o encontro de Javé com o seu Povo. Quando Salomão decidiu construir o Templo, os Profetas especificaram os materiais nobres que se deviam empregar, como a madeira em abundância no seu interior, revestimento de ouro... Deveria empregar-se na construção o melhor que tinham ao seu alcance, e deveriam trabalhar nele os melhores artífices de que dispunham.
Quando chegou a plenitude dos tempos e Deus decretou a sua vinda ao mundo, preparou Maria como a criatura adequada em que habitaria durante nove meses, desde a sua Encarnação até o seu nascimento em Belém. NEla, Deus imprimiu a marca do seu poder e do seu amor. Maria, Domus aurea, o novo Templo de Deus, foi revestida de uma formosura tão grande que não foi possível outra maior. A sua Imaculada Conceição e todas as graças e dons com que Deus enriqueceu a sua alma estiveram em função da sua Maternidade divina2.
Entende-se muito bem que o Arcanjo Gabriel, ao saudar Maria, se tenha mostrado cheio de respeito e veneração, pois compreendeu a imensa excelência da Virgem e a sua intimidade com Deus. A graça inicial de Maria, que a preparava para a sua Maternidade divina, foi superior à de todos os Apóstolos, mártires, confessores e virgens juntos, superior à de todas as almas santas e à de todos os anjos criados desde a origem do mundo3. Deus preparou uma criatura humana de acordo com a dignidade do seu Filho.
Quando dizemos que Maria tem uma dignidade “quase infinita”, queremos indicar que é a criatura mais próxima da Santíssima Trindade e que goza de uma honra e majestade altíssimas, inteiramente singulares. É a Filha primogênita do Pai, a predileta, como foi chamada tantas vezes na Tradição da Igreja e o Concílio Vaticano II repetiu4. Com Jesus Cristo, Filho de Deus, Nossa Senhora mantém o estreito laço da consangüinidade, que a faz ter com Ele umas relações absolutamente próprias. Maria é Templo e Sacrário do Espírito Santo5. Que alegria podermos ver, especialmente nestes dias da Novena, que temos uma Mãe tão próxima de Deus, tão pura e bela, e tão próxima de nós!
“Como gostam os homens de que lhes recordem o seu parentesco com personagens da literatura, da política, do exército, da Igreja!...
“– Canta diante da Virgem Imaculada, recordando-lhe:
“Ave, Maria, Filha de Deus Pai; Ave, Maria, Mãe de Deus Filho; Ave, Maria, Esposa de Deus Espírito Santo... Mais do que tu, só Deus!”6
II. A ALMA DE MARIA foi singularmente enriquecida pelos dons do Espírito Santo, que são como que as jóias mais preciosas que Deus pode conceder ao ser humano. Com eles, Deus adornou em grau supremo a morada do seu Filho.
Pelo dom do entendimento, que teve num grau superior ao de qualquer criatura, Maria teve conhecimento com uma fé pura, radicada na autoridade divina, de que a sua virgindade era sumamente grata ao Senhor. O seu olhar penetrou com a maior profundidade no sentido oculto das Escrituras, e compreendeu imediatamente que a saudação do Anjo era estritamente messiânica e que a Santíssima Trindade a tinha designado como Mãe do Messias esperado há tanto tempo. Depois teria sucessivas iluminações que confirmariam o cumprimento das promessas divinas de salvação e compreenderia que “deveria viver no sofrimento a sua obediência de fé ao lado do Salvador que sofre, e que a sua maternidade seria obscura e dolorosa”7.
O dom do entendimento está intimamente ligado à pureza de alma, e é por isso que se relaciona com a bem-aventurança dos limpos de coração, que verão a Deus8. A alma de Maria, a Puríssima, gozou de especiais iluminações que a levaram a descobrir o querer de Deus em todos os acontecimentos. Ninguém soube melhor do que Ela o que Deus espera de cada homem; por isso, é a nossa melhor aliada nos pedidos que dirigimos a Deus nas nossas necessidades.
dom da ciência ampliou ainda mais o olhar da fé de Maria. Por meio dele, a Virgem contemplava nas realidades cotidianas as marcas de Deus no mundo, como pistas para chegar até o Criador, e julgava retamente a relação de todas as coisas e acontecimentos com a salvação. Influenciada por esse dom, tudo lhe falava de Deus, todas as coisas a levavam a Deus9. Entendeu melhor do que ninguém a terrível realidade do pecado, e por isso sofreu, como nenhuma outra criatura, pelos pecados dos homens. Intimamente associada à dor do seu Filho, padeceu com Ele “quando morria na Cruz, cooperando de forma totalmente singular na restauração da vida sobrenatural das almas”10.
dom da sabedoria aperfeiçoou a sua caridade e levou-a a ter um conhecimento gozoso e experimental do divino e a saborear na sua intimidade os mistérios que se referiam especialmente ao Messias, seu Filho. A sua sabedoria era amorosa, infinitamente superior à que se pode obter dos mais profundos tratados de Teologia. Via, contemplava, amava e ordenava todas as coisas de acordo com essa experiência divina; julgava-as com a luz poderosa e amorosa que inundava o seu coração. Se lho pedirmos com insistência, Ela no-lo alcançará, pois “entre os dons do Espírito Santo, diria que há um de que todos nós, cristãos, necessitamos especialmente: o dom da sabedoria, que nos faz conhecer e saborear Deus, e nos coloca assim em condições de podermos avaliar com verdade as situações e as coisas desta vida”11.
III. O DOM DE CONSELHO aperfeiçoou a virtude da prudência na Virgem e fez com que sempre descobrisse prontamente a Vontade de Deus nas situações correntes da vida. Agiu como que sob o ditado de Deus12 e deixou-se guiar docilmente, quer nas grandes coisas que Deus lhe pediu, quer nos pormenores corriqueiros do dia-a-dia.
O Evangelho mostra-nos como a nossa Mãe Santa Maria se deixou conduzir continuamente por essa luz do Espírito Santo. Viveu a maior parte da sua vida no retiro de Nazaré, mas quando a sua presença se fez necessária junto da sua prima Isabel, foi com pressa13 às montanhas para estar ao lado dela. Ocupa um lugar discreto nos episódios narrados pelo Evangelho, mas está com os discípulos quando eles precisam dEla depois da morte de Jesus, e a seguir espera com eles a vinda do Espírito Santo. Permanece ao pé da Cruz, mas não vai ao sepulcro com as outras santas mulheres: na intimidade da sua alma, sabia que elas não encontrariam o corpo amado do seu Filho, porque já tinha ressuscitado. Viveu totalmente entregue aos pequenos afazeres de uma mãe que cuida da família, e percebeu antes que ninguém que ia faltar vinho nas bodas de Caná: a sua vida contemplativa fê-la estar atenta às pequenas coisas que aconteciam à sua volta. Ela é a Mãe do Bom Conselho –Mater boni consilii –, que nos ajudará, nos mil pequenos episódios de cada dia, a descobrir e secundar o querer de Deus.
dom da piedade deu à Virgem uma espécie de instinto filial que afetava profundamente todas as suas relações com Jesus: na oração, à hora de pedir, na maneira como enfrentava os diversos acontecimentos, nem sempre agradáveis...
Maria sentiu-se sempre Filha de Deus, e esse sentimento profundo foi crescendo continuamente até o fim da sua vida mortal. Mas, ao mesmo tempo, sentia-se Mãe de Deus e Mãe dos homens. Tanto a sua filiação como a sua Maternidade estavam profundamente saturadas de piedade. Ela sempre nos amará, porque somos seus filhos. E uma mãe está mais perto do filho doente, daquele que mais precisa dela.
A graça divina derramou-se sobre Nossa Senhora de modo abundantíssimo, e encontrou nEla uma cooperação e docilidade excepcionais: viveu com heroísmo a fidelidade aos pequenos deveres de todos os dias e nas grandes provas. Teve uma vida simples, como a das outras mulheres da sua terra e da sua época, mas também passou pela maiores amarguras que uma criatura pode experimentar, à exceção do seu Filho, que foi o Varão de dores anunciado pelo profeta Isaías14.
Pelo dom da fortaleza, que recebeu em grau máximo, pôde acolher com paciência as contradições diárias, as mudanças de planos... Enfrentou silenciosamente as dificuldades, mas com firmeza e valentia. Por essa fortaleza, esteve de pé junto da Cruz15. A piedade cristã, venerando essa sua atitude de dor e de fortaleza, invoca-a comoRainha dos mártires, Consoladora dos aflitos...
Finalmente, o Espírito Santo adornou-a com o santo temor de Deus, que nEla foi apenas uma reverência filial de altíssima intimidade com o Senhor, que a levou a uma atitude de adoração contínua perante o Deus infinito, de quem recebera todas as coisas. Por isso chamou-se a si mesma a Escrava do Senhor.
(1) Cfr. Missas da Virgem Maria, A Virgem, templo do Senhor, Antífona da Comunhão; (2) cfr. São Tomás, Summa theologica, III, q. 27, a. 5 ad 2; (3) cfr. R. Garrigou-Lagrange, A Mãe do Salvador, pág. 411; (4) cfr. Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 53; (5) cfr. João Paulo II, Enc. Redemptoris Mater, 25-III-1987, 9; (6) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 496; (7) João Paulo II, Enc. Redemptoris Mater, 16; (8) Mt 5, 8; (9) cfr. J. Polo, Maria y la Santísima Trinidad, Madrid, 1987, MC n. 460, pág. 29; (10) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 61; (11) Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 133; (12) cfr. J. Polo, op. cit., pág. 39; (13) Lc 1, 39; (14) Is 53, 3; (15) cfr. Jo 19, 25.





NOVENA DA IMACULADA. 2 DE DEZEMBRO. TERCEIRO DIA DA NOVENA

46. ESCRAVA DO SENHOR

– A vocação de Maria.
– Deus chama-nos.
– Meios para conhecer a vontade do Senhor.

I. O MEU ESPÍRITO exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque pôs os olhos na baixeza da sua escrava1.
Quando chegou a plenitude dos tempos, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré2. O Senhor dirige-se a quem mais amava nesta terra e serve-se para isso de um mensageiro excepcional, pois era excepcional a mensagem que lhe queria comunicar: Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus...3, diz-lhe o Arcanjo São Gabriel.

A Virgem, como fruto da sua meditação, conhecia bem as Escrituras e as passagens que se referiam ao Messias, e eram-lhe familiares as diversas formas empregadas para designá-lo. Além disso, unia-se a esse conhecimento a sua extraordinária sensibilidade interior para tudo o que dizia respeito ao Senhor. Num instante, por uma graça particular, foi-lhe revelado que ia ser a Mãe do Messias, do Redentor de quem tinham falado os Profetas. Ia ser a virgem anunciada por Isaías4, que conceberia e daria à luz o Emmanuel, o Deus conosco. A resposta da Virgem é uma reafirmação da sua entrega à vontade divina: Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra5.

A partir desse momento, o Verbo de Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, fez-se carne nas suas entranhas puríssimas. Foi o que de mais admirável e assombroso aconteceu desde a Criação do mundo. E aconteceu num pequeno povoado desconhecido, na intimidade de Maria. A Virgem compreendeu a sua vocação, os planos de Deus a seu respeito. Agora sabia o motivo de tantas graças do Senhor, a razão das suas qualidades, por que tinha sido sempre tão sensível às inspirações do Espírito Santo. “Todos os pequenos episódios que constituíam a trama da sua existência – e essa mesma existência na sua totalidade – ganhavam agora um relevo imprevisto; ao som das palavras do anjo, tudo teve uma explicação absoluta, mais que metafísica, sobrenatural. Foi como se, de repente, a Virgem se tivesse colocado no centro do universo, para além do tempo e do espaço”6.

E Ela, uma adolescente, não titubeia diante da grandeza incomensurável de ser a Mãe de Deus, porque é humilde e confia no seu Deus, a quem se entregou plenamente. A Virgem Santa Maria é “Mestra de entrega sem limites [...]. Pede a esta Mãe boa que ganhe força na tua alma – força de amor e de libertação – a sua resposta de generosidade exemplar: «Ecce ancilla Domini» – eis a escrava do Senhor”7. Senhor, conta comigo para o que quiseres. Não quero pôr limite algum à tua graça, ao que me vais pedindo todos os dias, todos os anos. Nunca deixas de pedir, nunca deixas de dar.

II. “ESTE FATO FUNDAMENTAL de ser a Mãe do Filho de Deus é, desde o princípio, uma abertura total à pessoa de Cristo, a toda a sua obra e à sua missão”8.

Neste terceiro dia da Novena da Imaculada, a Virgem ensina-nos a estar sempre abertos a Deus, numa entrega plena à chamada que cada um recebe do Senhor. A grandeza de uma vida consiste em podermos dizer ao fim dela: Senhor, sempre procurei cumprir a tua vontade, não tive outro fim nesta terra.

A vocação a que fomos chamados é o maior dom recebido de Deus, o dom para o qual o Senhor nos criou, aquilo que nos torna felizes. Deus chama-nos a todos e quer algo importante de nós, desde o momento em que nos chamou à existência. A grandeza do homem consiste em conhecer a vontade divina e levá-la a cabo, tornando-se colaborador de Deus na obra da Criação e da Redenção. Encontrar a vocação é encontrar um tesouro, a pérola preciosa9. Gastar todas as energias nela é encontrar o sentido da vida, a plenitude do ser.

Deus chama alguns à vida religiosa ou ao sacerdócio; “mas quer a grande maioria dos homens no meio do mundo, nas ocupações terrenas. Estes cristãos devem, pois, levar Cristo a todos os ambientes em que desenvolvem as suas tarefas humanas: à fábrica, ao laboratório, ao cultivo da terra, à oficina do artesão, às ruas das grandes cidades e aos caminhos de montanha”, e ali devem eles agir “de tal modo que, através das ações do discípulo, se possa descobrir o rosto do Mestre”10.

Contemplando a vocação de Santa Maria, compreendemos melhor que as chamadas feitas pelo Senhor são sempre uma iniciativa divina, uma graça que parte dEle: Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi11. Não poucas vezes, cumprem-se ao pé da letra as palavras da Escritura: Os meus caminhos não são os vossos caminhos...12 O que tínhamos forjado na nossa imaginação, talvez com tanto entusiasmo, tem às vezes pouco a ver com os projetos do Senhor, que sempre são maiores, mais altos e mais belos.

A vocação também não é a culminância de uma vida de piedade intensa, ainda que normalmente seja necessário um clima de oração e de amor para entender o que Deus nos diz silenciosamente, sem muito ruído. Nem sempre coincide com as nossas inclinações e gostos, ordinariamente muito humanos e pegados à terra. A vocação não pertence à ordem do sentimento, mas à ordem do ser; é algo objetivo que Deus nos preparou desde sempre. Em cada homem, em cada mulher, cumprem-se as palavras de São Paulo aos cristãos de Éfeso13, tantas vezes meditadas: Elegit nos in ipso ante mundi constitutionem..., “o Senhor escolheu-nos antes da criação do mundo, por amor, para sermos santos e imaculados na sua presença”.

Ordinariamente, Deus procura para as suas obras pessoas correntes, simples, às quais comunica as graças necessárias. Ensina São Tomás, referindo-se à Virgem, que “àqueles a quem Deus escolhe para uma missão, prepara-os de modo que sejam idôneos para desempenhar essa missão para a qual foram escolhidos”14. Isso é válido para todos nós. Portanto, se alguma vez nos parece difícil levarmos a cabo a missão a que fomos chamados, sempre poderemos dizer: porque tenho vocação para esta missão, tenho as graças necessárias e poderei cumpri-la. Deus me ajudará, se fizer tudo o que está ao meu alcance.

O Senhor pode preparar uma vocação desde a infância, mas também pode apresentar-se de modo súbito e inesperado, como aconteceu com São Paulo na estrada de Damasco15. Geralmente, serve-se de outras pessoas para preparar a chamada definitiva ou para dá-la a conhecer. Com freqüência, são os próprios pais quem, mesmo sem o perceberem, cumprindo a sua missão de educadores na fé, preparam o terreno onde germinará a semente da vocação, que só Deus põe na alma. Que grandeza poderem ser assim instrumentos de Deus! O que não fará Deus por eles? Outras vezes, serve-se de um amigo ou de uma moção interior que penetra como espada de dois gumes, e, freqüentemente, das duas coisas ao mesmo tempo.

Se existe um verdadeiro desejo de conhecer a vontade de Deus, se se empregam os meios sobrenaturais e a alma é sincera na direção espiritual, o Senhor dá então muito mais garantias de acertar na própria vocação do que em qualquer outro assunto. “Queres viver a audácia santa, para conseguir que Deus atue através de ti? – Recorre a Maria, e Ela te acompanhará pelo caminho da humildade, de modo que, diante dos impossíveis para a mente humana, saibas responder com um “fiat!” – faça-se! – que una a terra ao Céu”16. É uma audácia que nos será necessária no momento em que dissermos sim a Deus e seguirmos a nossa vocação, e depois muitas vezes ao longo da vida, pois Deus nos chama todos os dias, a todas as horas. E se alguma vez depararmos com “impossíveis”, deixarão de sê-lo se formos humildes e contarmos com a graça, como fez nossa Mãe Santa Maria.

III. A VIRGEM ENSINA-NOS que, para acertarmos no cumprimento da vontade divina (que pena se nos tivermos empenhado – por uns caminhos ou outros – em satisfazer os nossos caprichos!), é necessária uma disponibilidade completa. Só podemos cooperar com Deus quando nos entregamos completamente a Ele, deixando-o agir na nossa vida com total liberdade. “Deus não pode comunicar a sua vontade se não começa por haver na alma da criatura esta apresentação íntima, esta consagração profunda. Deus respeita sempre a liberdade humana, não atua diretamente nem se impõe a não ser na medida em que o deixamos agir”17.

A vida da Virgem Maria indica-nos também que, para ouvirmos o Senhor em todas as circunstâncias, devemos esmerar-nos no trato com Ele: ponderar, como Ela, as coisas no nosso coração, dar-lhes peso e conteúdo sob o olhar de Cristo: aprender a meditar, levantar o ponto de mira dos nossos ideais. A direção espiritual, junto com a oração, pode ser de grande ajuda para entendermos o que Deus quer e vai querendo de nós. E também o será o desprendimento dos nossos gostos, para aderirmos com firmeza àquilo que Deus nos pede, ainda que alguma vez possa parecer-nos difícil e árduo.

A resposta da Virgem foi como um programa daquilo que seria depois a sua vida: Ecce ancilla Domini... Ela não teria outro fim senão cumprir a vontade de Deus. Podemos deixar hoje nas mãos da Virgem um sim que Ela possa apresentar ao seu Filho, um sim sem reservas nem condições, que perdure e se desdobre em outros sins ao longo da nossa vida.

(1) Missas da Virgem Maria, Santa Maria Escrava do Senhor; Lc 1, 47-48; Antífona de entrada da Missa do dia 2 de dezembro; (2) Lc 1, 26; (3) Lc 1, 30-33; (4) Is 7, 14; (5) Lc 1, 38; (6) F. Suárez, A Virgem Nossa Senhora, pág. 14; (7) cfr. Josemaría Escrivá, Sulco, n. 33; (8) João Paulo II, Enc. Redemptoris Mater; (9) cfr. Mt 13, 44-46; (10) Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 105; (11) Jo 15, 16; (12) Is 55, 8; (13) Ef 1, 4; (14) São Tomás, S.Th., III, q. 27, a. 4 c; (15) cfr. At 9, 3; (16) Josemaría Escrivá, Sulco, n. 124; (17) M. D. Philippe, Mistério de Maria, págs. 86-87. 
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NOVENA DA IMACULADA. 3 DE DEZEMBRO. QUARTO DIA DA NOVENA
48. CAUSA DA NOSSA ALEGRIA

– A alegria verdadeira chega ao mundo com Maria.
– Ela ensina-nos a ser motivo de alegria para os outros.
– Abandonar toda a tristeza.

I. Ó DEUS, QUE PELA ENCARNAÇÃO do vosso Filho enchestes o mundo de alegria, concedei-nos, aos que veneramos a sua Mãe, causa da nossa alegria, que permaneçamos sempre no caminho dos vossos mandamentos, para que os nossos corações estejam firmes na verdadeira alegria1.

A verdadeira alegria está em Deus, e tudo o que nos chega dEle sempre vem com esse sinal. Quando Deus criou este mundo do nada, e de modo especial quando criou o homem à sua imagem e semelhança, tudo foi uma festa. Há uma alegria contida na expressão com que se conclui o relato da criação: E Deus viu que era muito bom tudo o que tinha feito2. Os nossos primeiros pais desfrutavam de tudo o que existia e exultavam no amor, louvor e gratidão a Deus. Não conheciam a tristeza.

Mas chegou o primeiro pecado, e com ele algo de perturbador envolveu o coração humano. A clara e luminosa alegria foi substituída pelo pesar, e a tristeza infiltrou-se no íntimo das coisas. Com a Imaculada Conceição de Maria, veio ao mundo, silenciosamente, o primeiro fulgor de alegria autêntica. O seu nascimento foi um imenso júbilo para a Santíssima Trindade, que olhava comprazida para o mundo porque nele estava agora presente a Virgem Maria. E com o faça-se, pelo qual Nossa Senhora deu o seu assentimento aos planos divinos da Redenção, esse júbilo derramou-se sobre toda a humanidade.

Quando Deus “quer trabalhar uma alma, elevá-la ao cume do seu amor, estabelece-a primeiro na sua alegria”3. Foi o que a Santíssima Trindade fez com a Virgem. E a plenitude dessa alegria é dupla: em primeiro lugar, porque Maria está cheia de graça, cheia de Deus, como nunca esteve nem chegará a estar nenhuma outra criatura; em segundo lugar, porque desde o momento do seu assentimento à embaixada do Anjo, o Filho de Deus assumiu a natureza humana nas suas entranhas puríssimas: com Ele, chegou aos homens toda a alegria verdadeira. O anúncio do seu nascimento em Belém será levado a cabo com estas significativas palavras: Não temais, porque eis que vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo. Nasceu-vos na cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor4. Cristo é a grande alegria, que cura as tristezas do coração; e Nossa Senhora foi a Causa da nossa alegria verdadeira, porque com o seu assentimento deu-nos Cristo, e atualmente, todos os dias, nos leva a Ele e no-lo entrega novamente.

O caminho da vida interior conduz a Jesus por meio de Maria. A alegria – não podemos esquecê-lo nunca – é estar com Jesus, ainda que nos vejamos rodeados de dores e contradições por todos os lados; a única tristeza seria não o possuir. “Esta experiência viva de Cristo e da nossa unidade é o lugar da esperança e é, portanto, fonte de gosto pela vida; e deste modo, torna possível a alegria; uma alegria que não se vê obrigada a esquecer ou a censurar nada para ter consistência”5.

II. A VIRGEM LEVA A ALEGRIA aonde quer que vá. E aconteceu que, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo6. É a proximidade de Maria, que leva no seu seio o Filho de Deus, a causa de tanto alvoroço naquela casa, de um alvoroço que até o Batista ainda não nascido manifesta no ventre de sua mãe. “Na presença do Senhor – escreve São João Crisóstomo –, não pode conter-se nem suporta esperar os prazos da natureza, mas procura romper a prisão do seio materno e cuida de dar testemunho de que o Salvador está prestes a chegar”7.

A Virgem ensina-nos a ser causa de alegria para os outros no seio da família, no trabalho, nas relações com as pessoas com quem convivemos ou com quem entramos em contacto, mesmo de passagem, como por exemplo numa entrevista, numa viagem ou no ponto de espera de um ônibus que demora a chegar.

Deve acontecer-nos o mesmo que a essas fontes que existem em muitos povoados, onde as mulheres do lugar vão buscar água. Umas carregam grandes vasilhas, e a fonte as enche; outras são menores, e também ficam cheias até à borda; outras estão sujas, e a fonte as limpa... Sempre acontece que todo o cântaro que vai à fonte volta cheio. E assim deve acontecer na nossa vida: qualquer pessoa que se aproxime de nós deve partir com mais paz, com alegria. Todo aquele que nos visite por estarmos doentes, ou por amizade, vizinhança, relações de trabalho..., deve despedir-se de nós um pouco mais alegre.

A água da fonte, normalmente, vem de outro lugar. A origem da nossa alegria está em Deus, e a Virgem leva-nos a Ele. Quando uma fonte não tem água, enche-se de muita sujidade; como a alma que deixou de ser manancial de paz para os outros, porque possivelmente as suas relações com o Senhor não são claras. “Não há alegria? Então pensa: há um obstáculo entre Deus e mim. – Quase sempre acertarás”8. E uma vez descoberto esse obstáculo, Nossa Senhora ajudar-nos-á a tirá-lo.

A alegria – ensina São Tomás de Aquino – nasce do amor9. E o amor tem tanta força “que esquecemos a nossa alegria para alegrar aqueles que amamos. E verdadeiramente é assim, a tal ponto que, mesmo que sejam grandíssimos os trabalhos, sabendo que contentam a Deus, tornam-se doces”10. O trato com Jesus faz-nos passar por cima das diferenças ou pequenas antipatias que podem surgir em algum momento, para chegarmos ao fundo da alma daqueles com quem convivemos, freqüentemente sedentos de um sorriso, de uma palavra amável, de uma resposta cordial.

Neste quarto dia da Novena à Imaculada, podemos examinar como é a nossa alegria: se é caminho para que os outros encontrem a Deus, se somos luz e não cruz para aqueles com quem estamos habitualmente numa relação mais intensa. Hoje, podemos oferecer a Nossa Senhora o propósito firme e sincero de ser semeadores de alegria, de “tornar amável e fácil o caminho aos outros, que já bastantes amarguras traz a vida consigo”11. É um modo cordial de imitarmos a Virgem, que dos Céus nos sorrirá e nos animará a seguir por esse caminho ao encontro do seu Filho. E isso tanto nos dias em que nos seja fácil alegrar os outros, como também naqueles em que, por cansaço ou por estarmos sobrecarregados, sorrir e manifestar bom-humor nos custe um pouco mais. Nessas ocasiões, a nossa Mãe do Céu – Mater amabilis – ajudar-nos-á especialmente.

III. AQUELES QUE ESTIVERAM perto de Nossa Senhora participaram da imensa alegria e da paz inefável que inundavam a sua alma, pois nEla se refletia “a riqueza e a formosura com que Deus a engrandeceu. Principalmente, por ter sido redimida e preservada em Cristo, e nEla reinarem a vida e o amor divinos. A isso se referem algumas invocações da ladainha: Mãe amável, Mãe admirável, Virgem prudentíssima, poderosa, fiel... Sempre uma nova alegria brota dEla, quando está diante de nós e a olhamos com respeito e amor. E se, ao contemplá-la, alguma fração da sua formosura vem e penetra na nossa alma, tornando-a também formosa, como se torna grande a nossa alegria!”12 Não nos custa nada imaginar como todos os que tiveram a felicidade de conhecê-la desejariam estar perto dEla! Os vizinhos viriam com freqüência à sua casa, e os amigos, e os parentes... Ninguém ouviu dos seus lábios queixas ou lamentações pessimistas, mas presenciou apenas os seus desejos de servir, de dar-se, convertidos em detalhes.

Quando a alma está alegre – com penas e lágrimas, às vezes – extravasa-se e é estímulo para os outros; a tristeza, pelo contrário, obscurece o ambiente e faz-lhe mal. Assim como a traça come o vestido, e o caruncho a madeira, assim a tristeza prejudica o coração do homem13; e prejudica a amizade, a vida de família..., tudo: predispõe para o mal. Por isso, devemos lutar rapidamente contra esse estado de ânimo, se alguma vez nos pesa no coração: Fixa o teu coração na santidade do próprio Deus e afugenta para longe de ti a tristeza. Porque a tristeza tem matado a muitos, e não há utilidade nela14.

O esquecimento de si mesmo, uma serena despreocupação pelos problemas próprios, que poucas vezes são realmente importantes, uma confiança mais plena em Deus são condições necessárias para estarmos alegres e servirmos os que nos rodeiam. Quem anda preocupado consigo mesmo dificilmente encontrará a alegria, que é abertura para Deus e para os outros. Em contrapartida, a nossa alegria será em muitas ocasiões um caminho para que os outros encontrem a Deus.

A oração abre a alma ao Senhor, e é nela que podemos encontrar forças para aceitar uma contrariedade, para abandonar nas mãos de Deus as coisas que nos preocupam; é a oração que nos leva a ser mais generosos e a fazer uma boa Confissão, se a raiz da nossa tristeza e mau-humor estiver na tibieza ou no pecado.

Terminamos a nossa oração dirigindo-nos à Virgem: “Causa nostrae laetitiae!, Causa da nossa alegria, rogai por nós! Ensinai-nos a saber acolher na fé o paradoxo da alegria cristã, que nasce e floresce da dor, da renúncia, da união com o vosso Filho crucificado: fazei com que a nossa alegria seja sempre autêntica e plena, para podermos comunicá-la a todos”15.

Ofereçamos à nossa Mãe do Céu, neste dia da Novena, o firme propósito de rejeitarmos sempre a tristeza e de sermos causa de paz e de alegria para os outros.

(1) Missas da Virgem Maria, II, Missa de Santa Maria, Causa da nossa alegria. Oração coleta; (2) Gên 1, 31; (3) M. D. Philippe, Mistério de Maria, pág. 134; (4) Lc 2, 10-11; (5) L. Giussani, La utopia y la presencia, em 30 Dias, 8.9.1990, pág. 9; (6) Lc 1, 41; (7) São João Crisóstomo, Sermão recolhido por Metafrasto; (8) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 662; (9) São Tomás, Summa theologica, II-II, q. 28, a. 4; (10) Santa Teresa, Livro das Fundações, 5, 10; (11) cfr. Josemaría Escrivá, Sulco, n. 63; (12) F. M. Moschner, Rosa mística, Rialp, Madrid, 1957, pág. 180; (13) Prov 25, 20; (14) Ecle 30, 24-25; (15) João Paulo II, Homilia, 31-V-1979.
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NOVENA DA IMACULADA. 4 DE DEZEMBRO. QUINTO DIA DA NOVENA
49. ROSA MÍSTICA
– Sempre com Jesus. Vida de oração.
– Aprender a rezar.
– As orações vocais. O Santo Rosário.
I. MARIA CONSERVAVA todas estas coisas, meditando-as no seu coração1. E a sua mãe conservava todas estas coisas no seu coração2. Por duas vezes o Evangelista se refere a esta atitude de Maria diante dos acontecimentos: uma na noite de Belém, e a outra em Nazaré, ao regressar de Jerusalém depois de encontrar Jesus no Templo. A insistência do Evangelista parece um eco da repetida reflexão de Maria, que deve tê-la confidenciado aos Apóstolos depois da Ascensão de Jesus aos céus.
A Virgem conservava e meditava. Sabia recolher-se interiormente, guardava e avaliava na sua intimidade, isto é, tornava tema da sua oração os grandes e pequenos acontecimentos da sua vida. Esta oração contínua de Maria é como o aroma da rosa “que se eleva constantemente para Deus. Essa elevação nunca cessa, tem um frescor primaveril; é sempre jubilosamente nova e virginal. Se a brisa das nossas orações ou os ventos tempestuosos deste mundo passam por Ela e a tocam, o perfume da sua oração eleva-se então em tons mais fortes e perceptíveis; Maria converte-se em intercessora, incluindo a nossa oração na sua para apresentá-la ao Pai em Jesus Cristo, seu Filho”3.
Quando estava nesta terra, a Virgem não fazia nada que não fosse por referência ao seu Filho: cada vez que falava com Jesus, e quando o fitava, quando lhe sorria ou pensava nEle, orava, pois a oração é isso: é falar com Deus4.
Em Caná da Galiléia, nas bodas daqueles parentes ou amigos, ensina-nos com que delicadeza e insistência devemos pedir. “Apesar de ser a Mãe de Jesus, de o ter embalado nos seus braços, Maria abstém-se de lhe indicar o que pode fazer. Expõe a necessidade e deixa o resto ao critério do Filho, na certeza de que a solução que Ele der ao problema, seja qual for e em que sentido for, será a melhor, a mais conveniente. Deixa a mais ampla liberdade ao Senhor, para que faça a sua vontade sem compromissos nem violências. Mas isso porque estava certa de que a vontade do Filho era o que de mais perfeito se podia fazer e o que deveras resolvia a questão. Não tolhe os movimentos do seu Filho, antes confia na sua sabedoria, no seu conhecimento superior, na sua visão mais ampla e profunda das circunstâncias que Ela provavelmente desconhecia. Nossa Senhora nem sequer considerou se Jesus acharia conveniente ou não intervir: expõe o que sucede e abandona-o nas suas mãos. É que a fé compromete o Senhor muito mais do que os argumentos mais sagazes e contundentes”5.
Ao pé da Cruz, a Virgem anima-nos a estar sempre junto de Jesus, em oração silenciosa, nos momentos mais duros da vida. E a última notícia que dEla nos dá o Evangelho no-la retrata entre os Apóstolos, orando com eles6, à espera da chegada do Espírito Santo.
“O Santo Evangelho facilita-nos brevemente o caminho para entendermos o exemplo da nossa Mãe: Maria conservava todas estas coisas dentro de si, ponderando-as no seu coração (Lc 2, 19). Procuremos nós imitá-la, conversando com o Senhor, num diálogo enamorado, de tudo o que se passa conosco, até dos acontecimentos mais triviais. Não esqueçamos que temos de pesá-los, avaliá-los, vê-los com olhos de fé, para descobrir a Vontade de Deus”7. É a isso que nos deve levar a nossa meditação diária: a identificar-nos plenamente com Jesus, a dar um conteúdo divino aos pequenos acontecimentos diários.
II. O AROMA DA NOSSA ORAÇÃO deve subir constantemente ao nosso Pai-Deus. Mais ainda: pedimos a Nossa Senhora – que já está no Céu em corpo e alma – que diga a Jesus constantemente coisas boas de nós: Recordare, Virgo Mater Dei, dum steteris in conspectu Domini, ut loquaris pro nobis bona... “Lembrai-vos, Virgem Mãe de Deus, quando estiverdes na presença do Senhor, de dizer-lhe coisas boas em nosso favor”8. E Ela, do Céu, anima-nos a nunca abandonar a oração, o trato com Deus, pois a oração é a nossa fortaleza diária.
Devemos chegar a um trato cada vez mais íntimo com o Senhor na nossa oração mental – nesses tempos diários que dedicamos a falar-lhe silenciosamente dos nossos assuntos, a dar-lhe graças, a pedir-lhe ajuda e a dizer-lhe que o amamos... – e mediante a oração vocal, empregando muitas vezes as palavras que serviram a tantas gerações para elevar os seus corações e os seus pedidos ao Senhor e à sua Santíssima Mãe.
A oração robustece-nos contra as tentações. Às vezes, leva-nos a ouvir as mesmas palavras que Jesus dirigiu aos seus discípulos no horto de Getsêmani: Por que dormis? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação9. Devemos rezar sempre, mas há momentos em que temos de fazê-lo mais intensamente, porque talvez sejam maiores as dificuldades familiares ou profissionais, ou mais fortes as tentações. A oração mantém-nos vigilantes contra o inimigo que ataca e fortalece-nos o espírito perante as dificuldades.
A Virgem Santa Maria ensina-nos hoje a ponderar no nosso coração e a dar sentido na presença de Deus a tudo aquilo que constitui a nossa vida: ao que nos parece uma grande desgraça, às pequenas contrariedades, às alegrias, à rotina do trabalho diário, às trivialidades da vida familiar, à amizade...
Como Maria, acostumemo-nos a procurar o Senhor na intimidade da nossa alma em graça. “Alegra-te com Ele no teu recolhimento interior. Alegra-te com Ele, já que o tens tão perto. Deseja-o aí; adora-o aí; não o procures fora de ti, porque te distrairás e te cansarás, e não o encontrarás; não poderás fruir dEle com maior certeza nem com mais rapidez nem mais perto do que dentro de ti”10.
Nenhuma pessoa neste mundo soube tratar Jesus como a sua Mãe; e, depois dEla, São José, que passou longas horas olhando-o, contemplando-o, falando com Ele dos pequenos assuntos diários, com simplicidade e veneração. Se recorrermos a eles com fé antes de começarmos a nossa oração mental diária, veremos como nos ajudam a conversar afetuosamente com o Senhor nesses minutos de silêncio e de colóquio íntimo.
III. NA ORAÇÃO MENTAL, falamos com o Senhor de pessoa a pessoa, entendemos o que Ele quer de nós, vemos com outra profundidade o conteúdo da Sagrada Escritura, pois “a compreensão tanto das coisas como das palavras transmitidas cresce quando os fiéis as contemplam e estudam, repassando-as no seu coração”11.
Juntamente com esse “ponderar as coisas no coração”, também é muito grata ao Senhor a oração vocal, como o foi sem dúvida a da Virgem, pois Ela certamente recitaria Salmos e outras fórmulas contidas no Antigo Testamento, próprias do povo hebreu12. Quando começamos o trabalho, ao terminá-lo, ao caminharmos pela rua, ao subirmos ou descermos as escadas da nossa casa..., a nossa alma inflama-se com as orações vocais e a nossa vida converte-se, pouco a pouco, numa contínua oração: recitamos o Pai-Nosso, a Ave-Maria, jaculatórias que nos ensinaram ou que aprendemos ao lermos e meditarmos o Santo Evangelho, extraídas das palavras com que muitos personagens que se aproximavam do Senhor lhe pediam que os curasse, perdoasse, abençoasse... Algumas dessas jaculatórias foram-nos ensinadas quando éramos pequenos: “São frases ardentes e singelas, dirigidas a Deus e à sua Mãe, que é nossa Mãe. Ainda hoje – recordava o Bem-aventurado Josemaría Escrivá –, de manhã e à tarde, não um dia, mas habitualmente, renovo aquele oferecimento de obras que os meus pais me ensinaram: Ó Senhora minha, ó minha Mãe!, eu me ofereço todo a Vós. E, em prova do meu afeto filial, vos consagro neste dia os meus olhos, os meus ouvidos, a minha boca, o meu coração... Não será isto – de certa maneira – um princípio de contemplação, demonstração evidente de confiado abandono?”13
A oração Lembrai-vos, a Salve-Rainha..., encerram para muitos cristãos a recordação e a candura da primeira vez em que as rezaram. Não deixemos que essas belíssimas orações se percam; cumpramos o dever de ensiná-las aos outros. De modo muito particular, podemos esmerar-nos nestes dias da Novena na recitação do terço, pois tem sido recomendada com tanta insistência pela Igreja.
O Papa Pio IX encontrava-se no seu leito de morte, e um dos prelados que o assistiam perguntou-lhe em que pensava naquelas horas supremas. E o Papa respondeu-lhe: “Veja: estou contemplando docemente os quinze mistérios que adornam as paredes desta sala, que são outros tantos quadros de consolo. Se soubesse como me animam! Contemplando os mistérios gozosos, não me lembro das minhas dores; pensando nos dolorosos, sinto-me extremamente confortado, pois vejo que não estou sozinho no caminho da dor, mas que Cristo vai à minha frente; e quando considero os gloriosos, sinto uma grande alegria, e parece-me que todas as minhas penas se convertem em resplendores de glória. Como me consola o rosário neste leito de morte!” E dirigindo-se depois aos que o rodeavam, disse: “O rosário é um Evangelho compendiado e dará aos que o recitam os rios de paz de que nos fala a Sagrada Escritura; é a devoção mais bela, mais rica em graças e gratíssima ao coração de Maria. Seja este, meus filhos, o meu testamento, para que vos lembreis de mim na terra”14.
Façamos hoje o propósito de aproveitar melhor o tempo que dedicamos à meditação diária e às orações vocais, especialmente ao terço, por meio do qual alcançaremos graças sem conta para nós e para aqueles que queremos aproximar do Senhor.
(1) Lc 2, 19; (2) Lc 2, 51; (3) F. M. Moshner, Rosa mística, pág. 201; (4) cfr. Card. J. H. Newman, Rosa mística, pág. 79; (5) F. Suaréz, A Virgem Nossa Senhora, pág. 246-247; (6) At 1, 14; (7) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 285; (8) cfr. Graduale Romanum, 1979, pág. 422; (9) Lc 22, 46; (10) São João da Cruz, Cântico espiritual, 1, 8; (11) Conc. Vat. II, Const. Dei Verbum, 8; (12) cfr. F. M. Willam, Vida de Maria, pág. 160; (13) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 296; (14) cfr. H. Marín, Doctrina Pontificia IV: Documentos marianos, BAC, Madrid, 1954, n. 322.
NOVENA DA IMACULADA. 5 DE DEZEMBRO. SEXTO DIA DA NOVENA

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NOVENA DA IMACULADA. 
5 DE DEZEMBRO. SEXTO DIA DA NOVENA
50. MÃE AMÁVEL

– Jesus deu-nos a sua Mãe como Mãe nossa.
– Mãe amável, acolhedora, de olhar misericordioso.
– Aprender a tratar mais e melhor com Nossa Senhora.

I. A VIRGEM CONVERTEU-SE em Mãe de todos os homens no momento em que consentiu livremente em ser Mãe de Jesus, o primogênito entre muitos irmãos. Esta maternidade de Maria é superior à maternidade natural humana1, pois ao dar à luz corporalmente o seu Filho, Jesus Cristo, Cabeça do Corpo Místico que é a Igreja, gerou espiritualmente todos os seus membros: “Ela é verdadeiramente – afirma o Concílio Vaticano II – Mãe dos membros de Cristo [...] porque cooperou pela caridade para que nascessem na Igreja os fiéis que são os membros desta Cabeça”2.

Quando Jesus foi pregado na Cruz, estavam junto dEle Maria, sua Mãe, São João, o discípulo amado, e algumas santas mulheres. O Senhor dirigiu então à sua Mãe essas palavras que tiveram e terão tanta transcendência na vida de todos os homens, de cada um de nós: Mulher – disse à Virgem –, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí a tua Mãe3.

Impressiona-nos ver Cristo esquecido de si: dos seus sofrimentos, da sua solidão. Comove-nos o seu imenso amor à sua Mãe: não quer que fique só; vê a dor de Maria e assume-a dentro do seu Coração, para oferecê-la também ao Pai pela redenção dos homens. Comove-nos o gesto de Jesus para com todos os homens – bons e maus, mesmo os endurecidos pelo pecado – representados em João. Dá-nos a sua Mãe como Mãe nossa; olha para cada um de nós e diz-nos: Eis aí a tua Mãe, cuida bem dela, recorre a Ela, aproveita esse dom inefável.

Nesses momentos em que Jesus consumava a sua obra redentora, Maria uniu-se intimamente ao seu sacrifício por uma cooperação mais direta e mais profunda na obra da nossa salvação. A maternidade espiritual da Santíssima Virgem foi confirmada pelo próprio Cristo na Cruz4.

Eis aí o teu filho. “Esse foi o segundo Natal. Maria tinha dado à luz o seu Filho primogênito sem dor alguma na gruta de Belém; agora dá à luz o seu segundo filho, João, no meio das dores da Cruz. Nesse momento, Maria sofre as dores do parto, não apenas por João, seu segundo filho, mas pelos milhões de outros filhos seus que a chamariam Mãe ao longo dos tempos. Agora compreendemos por que o Evangelista chamou a Jesus filho primogênito de Maria, não porque Ela viesse a ter outros filhos da sua carne, mas porque geraria muitos outros com o sangue do seu coração”5, com uma dor redentora, cheia de frutos, pois estava unida ao sacrifício do seu Filho. Compreendemos bem que a maternidade de Maria em relação a nós, sendo de uma ordem diversa, seja superior à maternidade das mães na terra, pois Ela nos gera para uma vida sobrenatural e eterna.

Eis aí o teu filho. Estas palavras produziram na alma da Virgem um aumento de caridade, de amor materno por nós; e no coração de João, um amor filial profundo e cheio de respeito pela Mãe de Deus. Este é o fundamento da nossa devoção à Virgem.

Podemos perguntar-nos neste dia da Novena qual é o lugar que a Virgem ocupa na nossa vida. Temos sabido acolhê-la como João? Chamamo-la muitas vezes Mãe, minha Mãe...? Tratamo-la bem?

II. MATERNIDADE QUER DIZER solicitude e desvelo pelo filho. É o que acontece com a Virgem em relação a todos os homens. Intercede por cada um de nós e obtém as graças específicas e oportunas de que necessitamos. Jesus diz de si mesmo que é o Bom Pastor que chama cada uma das suas ovelhas pelo seu nome, nominalmente6; algo de parecido se passa com a Virgem, Mãe espiritual de cada um dos homens. Assim como os filhos são diferentes e únicos para a sua mãe, da mesma maneira cada um de nós é único para Santa Maria. Ela nos conhece bem, sabe distinguir-nos de qualquer outro, chama-nos pelo nosso nome com um acento inconfundível.

A sua maternidade abarca a pessoa inteira, alma e corpo. Mas a sua ação maternal, mesmo a que se exerce sobre o corpo, tem por fim “restaurar a vida sobrenatural nas almas”7, a santidade, uma identificação mais perfeita com o seu Filho. Nesta tarefa, a Virgem é a colaboradora por excelência do Espírito Santo, que é quem dá a vida sobrenatural e a mantém.

A maternidade de Maria não é a mesma para todos os homens. Maria é Mãe de um modo excelente dos bem-aventurados do Céu, que já não podem perder a vida da graça. É Mãe de modo perfeito dos cristãos em graça, porque têm a vida sobrenatural completa. É Mãe daqueles que estão afastados de Deus pelo pecado mortal; com a sua misericórdia, procura atraí-los continuamente para o seu Filho. E é Mãe mesmo daqueles que não estão batizados, já que estão destinados à salvação, pois Deus quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade8.

Mãe por excelência, a Virgem tem sempre para nós um sorriso nos lábios, um gesto acolhedor, um olhar que convida à confiança; sempre está disposta a entender o que se passa no nosso coração; nEla devemos descarregar as nossas penas, aquilo que mais nos pesa: “Fez-se tudo para todos; fez-se devedora dos sábios e dos ignorantes, com uma copiosíssima caridade. Abre a todos o seu seio de misericórdia, para que todos recebam da sua plenitude: redenção o cativo, saúde o enfermo, consolação o aflito, perdão o pecador”9.

Talvez em algumas ocasiões nos sintamos doentes da alma, e então recorreremos a quem é Salus infirmorum, saúde dos enfermos, na certeza de não sermos rejeitados. Nenhuma experiência, por mais dura e negativa que possa ser ou parecer, deve desanimar-nos. Sempre encontraremos em Maria a Mãe amável, acolhedora, de olhar misericordioso, que nos recebe com ternura e nos facilita – e até nos torna mais curto – o caminho que perdemos. E se as dificuldades espirituais ou corporais se intensificam, chamaremos por Ela com mais força, e Ela se apressará a proteger-nos. “Mãe! – Chama-a bem alto, bem alto. – Ela, tua Mãe Santa Maria, te escuta, te vê em perigo talvez, e te oferece, com a graça do seu Filho, o consolo do seu regaço, a ternura das suas carícias. E te encontrarás reconfortado para a nova luta”10.

III. E DESSA HORA em diante, o discípulo recebeu-a em sua casa11. Que inveja temos de São João! Como se encheu de luz aquele novo lar de Santa Maria! “Os autores espirituais viram nessas palavras do Santo Evangelho um convite dirigido a todos os cristãos para que todos saibamos também introduzir Maria em nossas vidas. Em certo sentido, é um esclarecimento quase supérfluo, porque Maria quer sem dúvida que a invoquemos, que nos aproximemos dEla com confiança, que recorramos à sua maternidade, pedindo-lhe que se manifeste como nossa Mãe”12.

Talvez possa ser este o nosso propósito para hoje: contemplar Nossa Senhora na casa de São João, ver a extrema delicadeza com que o discípulo amado a trataria, as confidências cheias de intimidade que lhe faria... E colocá-la na nossa vida: fitá-la como o fazia o Apóstolo, recorrer a Ela em tudo com confiança filial, amá-la como a amou São João.

Como é fácil amar Santa Maria! Nunca, depois de Jesus, existiu nem existirá criatura alguma mais amável. Já se disse de Santa Maria que Ela é como um sorriso do Altíssimo. Nada de imperfeito, inacabado ou defeituoso encontramos no seu ser. Não é alguém longínquo e inacessível: está muito perto da nossa vida diária, conhece as nossas aflições, o que nos preocupa, aquilo de que precisamos... Não tenhamos receio de exceder-nos no nosso amor a Maria, pois nunca chegaremos a amá-la como a Santíssima Trindade a amou, a ponto de fazê-la Mãe de Cristo. Não tenhamos receio de exceder-nos, pois sabemos que Ela é “um presente do Coração de Jesus moribundo”13.

O Senhor deseja que aprendamos a amá-la sempre mais; que tenhamos para com Ela os pormenores de delicadeza e de amor que Ele teria no nosso lugar: jaculatórias, olhares freqüentes às suas imagens – pode-se dizer tanto num olhar! –, atos de desagravo pela indiferença de alguns dos seus filhos, a recitação amorosa do Ângelus, do terço... “Entre todas as homenagens que podemos tributar a Maria – afirma Santo Afonso Maria de Ligório –, não há nenhuma tão grata ao Coração da nossa Mãe como a de implorarmos com freqüência a sua proteção maternal, pedindo-lhe que nos assista em todas as nossas necessidades particulares, bem como ao darmos ou recebermos um conselho, nos perigos, nas tribulações, nas tentações... Esta boa Mãe livrar-nos-á certamente dos perigos logo que recitemos a antífona Sub tuum praesidium (“Sob a vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus”...), ou a Ave-Maria, ou mal invoquemos o seu santo nome, que tem um poder especial contra os demônios”14. Maria, como todas as mães, experimenta uma especial alegria em atender os seus filhos necessitados.

Sabemos que, “depois da peregrinação neste desterro, estarão à nossa espera os seus olhos misericordiosos e os seus braços, entre os quais encontraremos, num laço indissolúvel, o fruto do seu ventre, Jesus, que conquistou a glória para si, para a sua Mãe e para todos os irmãos que se acolhem à sua misericórdia”15.

Sancta Maria, Mater amabilis, ora pro eis... ora por me. Ensina-me a querer-te cada dia um pouco mais.

(1) Cfr. R. Garrigou-Lagrange, La Madre del Salvador, pág. 219; (2) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 53; (3) Jo 19, 27; (4) João Paulo II, Enc. Redemptoris missio, 7-XII-1990, n. 23; (5) F. J. Sheen, Desde la Cruz, Subirana, Barcelona, 1965, pág. 18; (6) cfr. Jo 10, 3; (7) cfr. Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 61; (8) cfr. J. Ibañez-F. Mendoza, La Madre del Redentor, págs. 237-238; (9) São Bernardo, Homilia na oitava da Assunção, 2; (10) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 516; (11) Jo 19, 27; (12) Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 140; (13) cfr. Pio XII, Enc. Haurietis aquas, 15-V-1956, 21; (14) Santo Afonso Maria de Ligório, As glórias de Maria, III, 9; (15) L. M. Herrán, Nuestra Madre del Cielo, 2ª ed., Palabra, Madrid, 1988, pág. 102.
 
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NOVENA DA IMACULADA. 6 DE DEZEMBRO. SÉTIMO DIA DA NOVENA
52. REFÚGIO DOS PECADORES

– A Virgem e o sacramento da Penitência.
– A sua atitude misericordiosa para com os pecadores.
– Nosso refúgio.

I. AVE, CHEIA DE GRAÇA, és chamada clementíssima para com os pecadores porque contemplas misericordiosa a nossa miséria1.

Em alguns lugares, desde tempos imemorais, foi costume representar Nossa Senhora com um grande manto debaixo do qual se encontra todo o gênero de pessoas com um rosto cheio de paz: papas e reis, comerciantes e camponeses, homens e mulheres... Alguns, que não se abrigaram bem debaixo desse manto protetor, têm alguma parte do corpo atravessada por uma flecha: o preguiçoso é representado sentado e com uma flecha na perna, o guloso com um prato na mão e a flecha na barriga...2

Refugium peccatorum: desde sempre, os cristãos viram a Santíssima Virgem como amparo e refúgio dos pecadores, para onde corremos, como que por instinto, nos momentos de maior tentação ou dificuldade, ou quando talvez não tenhamos sido fiéis ao Senhor. Ela é o atalho que nos facilita o retorno a Jesus.

Nos primeiros séculos da nossa fé, os Santos Padres, ao tratarem do mistério da Encarnação do Verbo, afirmavam com freqüência que o seio virginal de Maria foi o lugar em que se selou a paz entre Deus e os homens. Pela sua especialíssima união com Cristo, a Virgem exerce uma maternidade em relação aos homens que consiste em “contribuir para a restauração da vida sobrenatural nas almas”3; por essa maternidade, ocupa Ela um lugar totalmente especial no plano pensado por Deus para livrar o mundo dos seus pecados. Para isso, “consagrou-se totalmente como escrava do Senhor à Pessoa e à obra do seu Filho, servindo sob Ele e com Ele o mistério da Redenção”4; esteve associada à expiação de Cristo por todos os pecados do mundo, padeceu com Ele e foi corredentora em todos os momentos da vida de Jesus e de modo especial no Calvário, onde ofereceu o seu Filho ao Pai e se ofereceu juntamente com Ele: “Verdadeiramente, em virtude da sua maternidade divina, Maria converteu-se na aliada de Deus na obra da reconciliação”5. Por isso, muitos teólogos costumam comentar que a Virgem se encontra de algum modo presente na Confissão sacramental, em que nos são concedidas particularmente as graças da Redenção. “Se alguém separa do sacramento da penitência a coexpiação de Maria, introduz entre Ela e Cristo uma divisão que nunca existiu nem pode ser admitida [...], já que é o próprio Cristo quem assume na sua expiação toda a cooperação expiatória da sua Mãe”6.

Maria encontra-se sempre muito perto da Confissão: está presente no caminho que leva a esse sacramento, preparando a alma para que se aproxime dele com humildade, sinceridade e arrependimento. Exerce um trabalho maternal importantíssimo, facilitando o caminho da sinceridade e conduzindo suavemente a essa fonte de graça. Se alguma vez as faltas cometidas nos envergonham particularmente, Ela é o primeiro Refúgio para o qual devemos correr, certos de que, pouco a pouco, com a sua graça maternal, se tornará fácil o que a princípio era difícil. Se um filho se afasta da casa paterna, que mãe não estará disposta a facilitar-lhe o regresso? “A Mãe de Deus, que buscou afanosamente o seu Filho, perdido sem culpa dEla, que experimentou a maior alegria ao encontrá-lo, ajudar-nos-á a desandar o andado, a retificar o que for preciso quando pelas nossas leviandades ou pecados não conseguirmos distinguir Cristo. Alcançaremos assim a alegria de abraçá-lo de novo, para lhe dizer que nunca mais o perderemos”7.

Santa Maria, Refúgio dos pecadores, nosso refúgio, dai-nos o instinto certeiro de recorrer a Vós quando nos afastarmos do amor do vosso Filho. Dai-nos o dom da contrição.

II. SANTA MARIA, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores...

O perdão sempre é possível. O Senhor deseja a nossa salvação e a limpeza da nossa alma mais do que nós mesmos. Deus é todo-poderoso, é nosso Pai e é Amor. E Jesus diz a todos, e a nós também: Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores8. Ele chama-nos – com mais força nesta novena – para que, com a ajuda da sua Mãe, nos desapeguemos do egoísmo, dos pequenos rancores, das faltas de amor, dos juízos precipitados sobre os outros, das faltas de desprendimento...

Devemos aproximar-nos da grande festa de Nossa Senhora com um coração mais limpo. Na intimidade do nosso coração, devemos sentir esse convite divino a uma maior pureza interior. Uma tradição muito antiga relata uma aparição do Senhor a São Jerônimo: “Jerônimo, que me vais dar?” E o santo respondeu: “Oferecer-te-ei os meus escritos”. E Cristo respondeu-lhe que não era suficiente. “Que entregarei então? A minha vida de mortificação e penitência?” A resposta foi: “Também não me bastam”. “Que me fica por dar-te?”, perguntou São Jerônimo. E Cristo respondeu-lhe: “Podes dar-me os teus pecados, Jerônimo”9. Às vezes, pode custar-nos reconhecer diante de Deus os nossos pecados, fraquezas e erros, deixá-los nas suas mãos sem nenhum invólucro, como são, sem justificações, com sinceridade de coração, chamando cada coisa pelo seu nome. Deus toma-os porque são o que nos separa dEle e dos outros, o que nos faz sofrer, o que impede uma verdadeira vida de oração. Deus deseja-os para destruí-los, para perdoá-los e dar-nos em troca uma fonte de Vida.

É surpreendente, gozosamente surpreendente, a insistência com que Jesus chama os pecadores, pois o Filho do homem veio salvar o que tinha perecido10. Essa atitude misericordiosa foi a que fez com que o conhecessem muitos dos que viveram perto dEle: Os escribas e fariseus murmuravam e diziam: Ele recebe os pecadores e come com eles11. E, ante o assombro de todos, livra a mulher adúltera da humilhação a que estava sendo submetida, e depois despede-a, perdoada, com estas simples palavras: Vai e não peques mais12. Jesus é sempre assim. Nunca nos passe pela cabeça – recomendava o Cardeal Newman – a idéia de que Deus é um amo duro, severo13. Esta é a imagem que pode formar quem se comportasse dessa maneira – áspera e friamente, ou mostrando-se incomodado – ante as ofensas alheias. Mas Deus não é assim: quanto pior é a nossa situação, mais Ele nos ama, mais nos procura.

Ensina Santo Afonso Maria de Ligório que a principal missão confiada por Deus à Virgem foi exercer a misericórdia, e que Maria põe todas as suas prerrogativas a serviço dessa tarefa14.

A missão de Maria não é aplacar a justiça divina. Deus é sempre bom e misericordioso. A missão de Nossa Senhora é a de preparar o nosso coração para que possamos receber as inumeráveis graças que o Senhor nos quer dar. “Não será Maria um suave e poderoso estímulo para superarmos as dificuldades inerentes à Confissão sacramental? Não é verdade que Ela nos convida a aceitar essas dificuldades para transformá-las em meio de expiação das nossas culpas e das alheias?”15 Recorramos sempre ao seu auxílio enquanto nos preparamos para receber esse sacramento.

Santa Maria, “Esperança nossa, olhai-nos com compaixão, ensinai-nos a ir continuamente a Jesus e, se caímos, ajudai-nos a levantar-nos, a voltar para Ele, mediante a confissão das nossas culpas e pecados no Sacramento da Penitência, que traz sossego à alma”16.

III. SANCTA MARIA, refugium nostrum et virtus... Refúgio e fortaleza nossa.

A palavra refúgio vem do latim fugere, fugir de algo ou alguém... Quando procuramos um refúgio, fugimos do frio, da escuridão da noite, de uma tempestade; procuramos segurança, abrigo. Quando recorremos a Nossa Senhora, encontramos a única proteção verdadeira contra as tentações, o desânimo, a solidão... Muitas vezes, o simples fato de começarmos a rezar-lhe é suficiente para que a tentação desapareça e recuperemos a paz e o otimismo. Se em algum momento as dificuldades se avolumam e as tentações se tornam mais fortes, devemos correr rapidamente a abrigar-nos sob o manto de Nossa Senhora. “Todos os pecados da tua vida parecem ter-se posto de pé. – Não desanimes. Pelo contrário, chama por tua Mãe, Santa Maria, com fé e abandono de criança. Ela trará o sossego à tua alma”17.

NEla encontramos sempre abrigo e proteção. Ela “consola o nosso temor, move a nossa fé, fortalece a nossa esperança, dissipa os nossos temores e anima a nossa pusilanimidade”18. Os seus filhos, logo que percebem o seu amor de Mãe, refugiam-se nEla implorando perdão; “ao contemplarem a sua beleza espiritual, esforçam-se por livrar-se da fealdade do pecado, e, ao meditarem nas suas palavras e exemplos, sentem-se chamados a cumprir os preceitos do seu Filho”19.

Minha Mãe, Refúgio dos pecadores, ensina-nos a reconhecer os nossos pecados e a arrepender-nos deles. Vem ao nosso encontro quando for difícil o caminho de volta para o teu Filho, quando nos sentirmos perdidos.

(1) Missas da Virgem Maria, n. 14; Antífona de entrada da Missa Mãe da reconciliação; (2) cfr. M. Trens, María. Iconografia de la Virgen en el arte español, pág. 274 e segs.; (3) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 61; (4) ib., 56; (5) João Paulo II, Exort. Apost. Reconciliatio et Paenitentia, 2-XII-1984, n. 35; (6) A. Bandera, La Virgen Maria y los sacramentos, Rialp, Madrid, 1978, pág. 173; (7) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 278; (8) Mt 9, 13; (9) cfr. F. J. Sheen, Desde la cruz, pág. 16; (10) Mt 18, 11; (11) Mt 11, 19; (12) Jo 8, 11; (13) Card. J. H. Newman, Sermão para o IV domingo depois da Epifania; (14) Santo Afonso Maria de Ligório, As glórias de Maria, VI, 3, 5; (15) A. Bandera, op. cit., págs. 179-180; (16) João Paulo II, Oração à Virgem de Guadalupe, janeiro de 1979; (17) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 498; (18) São Bernardo, Homilia na Natividade da B. Virgem Maria, 7; (19) cfr. Missas da Virgem Maria, n. 14; Prefácio da Missa Mãe da reconciliação.

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NOVENA DA IMACULADA. 7 DE DEZEMBRO. OITAVO DIA DA NOVENA
53. PORTA DO CÉU

– Por meio de Maria, sempre encontramos Jesus.
– A intercessão de Nossa Senhora.
– A devoção à Virgem, sinal de predestinação.

I. AVE, MARIS STELLA, / Dei Mater alma, / atque semper Virgo, / felix caeli porta. “Ave, estrela do mar, / Mãe santa de Deus, / e sempre Virgem, / feliz porta do Céu”1.
Ianua caeli, Porta do Céu, assim a temos invocado tantas vezes na ladainha do terço. Maria é a entrada e o acesso a Deus, é a Porta oriental do Templo2 de que fala o Profeta, porque por Ela chegou-nos Jesus, o Sol da justiça. E é, ao mesmo tempo, “a porta dourada do Céu pela qual confiamos entrar um dia no descanso da eterna bem-aventurança”3. Por meio de Maria, sempre encontramos Jesus.
Às vezes, os homens percorrem mil caminhos extraviados, procurando a Deus com nostalgia; tentam chegar até Ele à força de braçadas, de complicadas especulações, e esquecem essa entrada simples que é Maria, “que nos conduz ao interior do Céu da convivência com Deus”4.
Conta-se de frei Leão, um leigo que acompanhava sempre São Francisco de Assis, que, depois da morte do Santo, depositava todos os dias sobre o seu túmulo um punhado de ervas e flores e meditava sobre as verdades eternas. Certo dia, adormeceu e teve uma visão do dia do Juízo. Viu que se abria uma janela no Céu e aparecia Jesus, o amável Juiz, acompanhado de São Francisco. Fizeram descer uma escada vermelha, que tinha os degraus muito espaçados, de tal maneira que era impossível subir por ela. Todos tentavam e pouquíssimos conseguiam subir. Ao cabo de um certo tempo, e como subisse da terra um grande clamor, abriu-se outra janela, à qual apareceram novamente Jesus e São Francisco, mas com a Virgem ao lado do Senhor. Lançaram outra escada, mas esta era branca e tinha os degraus mais juntos. E todos, com imensa alegria, iam subindo. Quando alguém se sentia especialmente fraco, Santa Maria animava-o chamando-o pelo nome e enviando algum dos anjos que a serviam para que o ajudasse. E assim todos foram subindo, um atrás do outro5. Não deixa de ser uma lenda piedosa, que no entanto nos ensina uma verdade essencial e consoladora, conhecida desde sempre pelo povo cristão: com a Virgem, a santidade e a salvação tornam-se mais fáceis. Sem a Virgem, tudo se torna não só mais difícil, como talvez impossível, pois Deus quis que Ela fosse “a dispensadora de todos os tesouros que Jesus conquistou com o seu Sangue e a sua Morte”6.
A Virgem não é apenas a porta do Céu – Ianua caeli –, mas também uma ajuda poderosíssima para que o alcancemos. Pois, “assunta aos céus, não abandonou esta missão salvífica, mas pela sua múltipla intercessão continua a granjear-nos os dons da salvação eterna. Pela sua maternal caridade, cuida dos irmãos do seu Filho que ainda peregrinam rodeados de perigos e dificuldades, até que sejam conduzidos à Pátria bem-aventurada. Por isso, a Santíssima Virgem Maria é invocada na Igreja sob os títulos de Advogada, Auxiliadora, Socorro, Medianeira”7.
Por vontade divina, a Santíssima Virgem é a Medianeira perante o Mediador, a quem está subordinada, como ensina São Bernardo8. Todas as graças nos chegam através das mãos de Maria, de tal maneira que, como afirmam muitos teólogos, Cristo não nos concede nada a não ser por meio de Nossa Senhora. E Ela está sempre disposta a conceder-nos tudo o que lhe queiramos pedir e possa ser útil à nossa salvação. Oxalá os nossos pedidos não sejam tímidos durante esta Novena.
II. SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO afirma que Maria é a Porta do Céu porque, da mesma forma que todas as graças e indultos que os reis concedem passam pela porta do seu palácio, de igual modo nenhuma graça desce do Céu à terra sem passar pelas mãos de Maria9.
Já na sua vida terrena, Nossa Senhora aparece como a dispensadora das graças. Por Ela, Jesus santifica o Precursor quando a Virgem visita a sua prima Isabel. Em Caná, a pedido de Maria, Jesus realiza o seu primeiro milagre, convertendo a água em vinho; e é ali também, em conseqüência desse milagre, que os discípulos do Senhor passam a crer nEle10. A Igreja começa o seu caminho, através da história dos homens e dos povos, no dia de Pentecostes, e “sabe-se que Maria está presente no começo desse caminho, pois vemo-la no meio dos Apóstolos no Cenáculo de Jerusalém, «implorando com as suas orações o dom do Espírito Santo»”11.
Pela sua intercessão, Maria alcança-nos e distribui-nos todas as graças, mediante súplicas ao seu Filho que não podem cair no vazio. Esta intercessão é ainda maior depois da sua Assunção ao Céu e depois de ter sido elevada em dignidade acima dos anjos e dos arcanjos. A Virgem distribui-nos a água da fonte, não toda de uma vez – afirma São Bernardo –, mas fazendo cair a graça gota a gota sobre os nossos corações ressecados, na medida da nossa capacidade12. Ela conhece perfeitamente as nossas dificuldades e concede-nos as graças de que necessitamos. Só a nossa má vontade pode impedir que essas graças cheguem até à nossa alma.
Pelo conhecimento que possui das necessidades espirituais e materiais de cada um dos seus filhos, Nossa Senhora, levada pela sua imensa caridade, intercede constantemente por nós. E muito mais quando lhe dirigimos com insistência as nossas súplicas. Noutros casos, porém, deixamos por completo nas suas mãos a solução dos problemas que nos afligem, convencidos de que Ela sabe melhor do que nós o que nos convém: “Minha Mãe... vês que necessito disto e daquilo..., que este amigo, este irmão, este filho... estão longe da casa paterna...” NEla se dão em plenitude as palavras de Jesus no Evangelho: Todo aquele que pede, recebe; e aquele que busca, encontra; e a quem bate, abrir-se-á13. Como pode Nossa Senhora deixar-nos à porta quando lhe pedimos que no-la abra? Como não há de socorrer-nos se nos vê tão necessitados?
III. IANUA CAELI, ora pro eis..., ora pro me.
O título de Porta do Céu convém à Virgem pela sua íntima união com o seu Filho e pela sua participação na plenitude de poder e de misericórdia que deriva de Cristo, Nosso Senhor. Jesus Cristo é, por direito próprio e principal, o caminho e a entrada para a glória, pois com a sua Paixão e Morte abriu-nos as portas do Céu que antes estavam fechadas. Mas chamamos a Maria Porta do Céu porque, com a sua intercessão onipotente, nos proporciona os auxílios necessários para alcançarmos as graças que Cristo nos mereceu e irmos até o trono de Deus14, onde nos espera o nosso Pai.
Além disso, já que por essa porta celestial nos chegou Jesus, iremos a Ela para encontrá-lo, pois “Maria é sempre o caminho que conduz a Cristo. Cada encontro com Ela é necessariamente um encontro com o próprio Cristo. Que outra coisa significa o contínuo recurso a Maria senão buscar nos seus braços, nEla, por Ela e com Ela, o nosso Salvador, Jesus Cristo?”15 Sempre, como os Magos em Belém, encontramos Jesus com Maria, sua Mãe16. Esta é a razão por que já se disse em tantas ocasiões que a devoção à Virgem é sinal de predestinação17. Ela cuida de que os seus filhos encontrem o caminho que leva à casa do Pai. E se alguma vez nos desviamos, utilizará os seus recursos poderosos para que retornemos ao bom caminho, e nos estenderá a mão para que não nos desviemos novamente. E se caímos, levantar-nos-á; e arrumar-nos-á uma vez mais para que estejamos apresentáveis na presença do seu Filho.
A intercessão da Virgem é maior do que a de todos os santos juntos, pois os outros santos nada obtêm sem Ela. A mediação dos santos depende da de Maria, que é universal e sempre subordinada à do seu Filho. Além disso, as graças que a Virgem nos obtém foram merecidas por Ela pela sua profunda identificação com a Paixão e Morte de Cristo. Com a sua ajuda, entraremos na casa do Pai.
Com esses pequenos atos de amor que lhe estamos oferecendo nestes dias, não podemos nem sequer imaginar a chuva de graças que vem derramando sobre cada um de nós, sobre as pessoas que pusemos sob os seus cuidados e sobre toda a Igreja. “As mães não contabilizam os pormenores de carinho que os seus filhos lhe demonstram; nada pensam ou medem com critérios mesquinhos. Uma pequena manifestação de carinho, elas a saboreiam como mel, e extravasam-se, concedendo muito mais do que recebem. Se assim reagem as mães boas da terra, imaginai o que poderemos esperar da Nossa Mãe Santa Maria”18. Não nos separemos dEla; não deixemos um só dia de recorrer à sua proteção maternal.

(1) Hino Ave, Maris stella; (2) Ez 44, 1; (3) Bento XIV, Bula Gloriosae Dominae, 27-IX-1748; (4) F. M. Moshner, Rosa mística, pág. 240; (5) cfr. Vita Fratris Leonis, em Analecta Franciscana, III, I; (6) São Pio X, Enc. Ad diem illum, 2-II-1904; (7) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 62; (8) São Bernardo, Sermão sobre as doze prerrogativas da B. Virgem Maria, em Suma Aurea, VI, 996; (9) Santo Afonso Maria de Ligório, As glórias de Maria, I, 5, 7; (10) cfr. Jo 2, 11; (11) João Paulo II, Enc. Redemptoris Mater, 25-III-1987, n. 26; (12) cfr. São Bernardo, Homilia na Natividade da B. Virgem Maria, 3, 5; (13) Mt 7, 8; (14) cfr. Card. Gomá, Maria Santíssima, vol. II, págs. 162-163; (15) Paulo VI, Enc. Mense Maio, 29-IV-1965; (16) cfr. Mt 2, 11; (17) cfr. Pio XII, Enc. Mediator Dei, 20-II-1947; (18) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 280.

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Papa Francisco anuncia que
o ano de 2015 será dedicado
à vida consagrada



Homens e mulheres que despertam o mundo


«Homens e mulheres que despertam o mundo»: para descrever a missão dos religiosos no mundo contemporâneo o Papa Francisco escolheu esta imagem significativa, anunciando que o ano de 2015 será dedicado à vida consagrada. Foi anunciado por um comunicado da União dos superiores gerais (Usg), no final da audiência pontifícia que teve lugar na manhã de sexta-feira, 29 de Novembro, na Sala do Sínodo.

A Liturgia das Horas nos torna participantes na jornada do louvor e da ação de graças que, no Espírito, Cristo oferece ao Pai com a sua Esposa, a Igreja. (Regra de Vida)

A radicalidade é exigida a todos os cristãos, afirmou o Pontífice, mas os religiosos são chamados a seguir o Senhor de modo especial: «são homens e mulheres que podem despertar o mundo. A vida consagrada é profecia. Deus pede-nos para sair do nicho que nos contém para irmos às fronteiras do mundo, evitando a tentação de as domesticar. É este o modo mais concreto de imitar o Senhor.

Entrega do anel na Consagração Perpétua


À pergunta sobre a situação das vocações, o Papa sublinhou que existem Igrejas jovens que estão a dar frutos renovados. Isto obriga a reconsiderar a inculturação do carisma. O diálogo intercultural deve estimular a introduzir no governo das instituições religiosas pessoas de várias culturas que expressem modos diversos de viver o carisma.
Unidas às vozes de toda a criação e da Igreja, celebramos a Santa Liturgia com intensa devoção, «sabendo realizar uma suplência por aqueles que a transcuram». (Regra de Vida)
Por conseguinte, o Papa insistiu sobre a formação que a seu parecer se baseia em quatro pilares fundamentais: formação espiritual, intelectual, comunitária e apostólica. É imprescindível evitar qualquer forma de hipocrisia e clericalismo através de um diálogo sincero e aberto sobre todos os aspectos da vida: «a formação é uma obra artesanal, não policial – afirmou – e o objetivo é formar religiosos que tenham um coração terno e não azedo como o vinagre. Todos somos pecadores, mas não corruptos. Aceitem-se os pecadores, mas não os corruptos».

                  «Na comunidade devem reinar a alegria, o afeto, 
                    a fraternidade e a compaixão». (Regra de Vida)

Questionado sobre a fraternidade, o Pontífice afirmou que ela tem uma grande força de atração. Supõe a aceitação das diferenças e dos conflitos. Por vezes é difícil vivê-la, mas se não a vivermos não seremos fecundos. Contudo «nunca devemos comportar-nos como gerentes face a um conflito de um irmão: é preciso acariciar o conflito.
Cada Serva imita a atitude de abandono de Jesus no Getsêmani, com uma amorosa aceitação da vontade divina expressa nas palavras: «Pai, não a minha, mas a tua vontade seja feita». (Regra de Vida)

Por fim foram feitas algumas perguntas sobre as relações entre os religiosos e as Igrejas particulares nas quais eles estão inseridos. O Santo Padre afirmou que conhece por experiência os possíveis problemas: «nós, bispos, devemos compreender que as pessoas consagradas não são material de ajuda, mas são carismas que enriquecem as dioceses».
Cada Serva sente-se empenhada a fazer da sua vida uma oferta com Cristo ao Pai, no Espírito Santo, pelos sacerdotes. (Regra de Vida)

As últimas perguntas referiram-se às fronteiras da missão dos consagrados. «Elas devem ser procuradas com base nos carismas», respondeu o Papa. Em paralelo com estes desafios citou o cultural e o educativo nas escolas e nas universidades. Por fim, deixando a sala o Pontífice afirmou: «Obrigado pelo vosso testemunho e também pelas humilhações que sofreis».

2013-11-30 L’Osservatore Romano