Ladainha do Imaculada
Senhor, tende piedade de nós
Jesus Cristo, tende piedade de nós
Senhor, tende piedade de nós
Jesus Cristo, ouvi-nos
Jesus Cristo, atendei-nos
Deus Pai, que preparastes uma digna morada para o Vosso Filho pela Imaculada Conceição, tende piedade de nós
Deus Filho, que resgatastes a Vossa Mãe pela aplicação antecipada dos Vossos méritos, tende piedade de nós
Deus Espírito Santo, que vivificastes Maria desde a Sua Imaculada Conceição, tende piedade de nós
Santíssima Trindade, que predestinastes Maria na Sua Imaculada Conceição antes de todos os séculos, tende piedade de nós
A PARTIR DAQUI RESPONDE-SE: ROGAI POR NÓS QUE RECORREMOS A VÓS
Maria, concebida sem pecado, Filha querida do Pai Eterno,
Maria, concebida sem pecado, digníssima Mãe do Filho de Deus,
Maria, concebida sem pecado, Virgem puríssima e Esposa do Espírito Santo,
Maria, enriquecida de todos os dons sobrenaturais na Vossa Imaculada Conceição,
Maria, que sois a única entre todas as criaturas que fostes preservada do pecado original,
Maria, ornada, na Vossa Imaculada Conceição, da plenitude das graças,
Maria, a quem a prerrogativa da Vossa Imaculada Conceição dá a preeminência sobre todo o ser criado,
Maria, que desde que entrastes no mundo parecestes sempre como o Sol à medida que avança no horizonte,
Maria, que pela Vossa Imaculada Conceição, fostes preservada da tripla concupiscência,
Maria, toda bela e sem mancha
Maria, Santuário da Sabedoria Encarnada,
Maria, Mãe do Bom Conselho,
Maria, Mãe da Boa Esperança,
Ó Maria, Mãe do Bom Socorro,
Ó Maria, Mãe da graça,
Ó Maria, Mãe da doce consolação,
Ó Maria, Mãe do belo amor,
Ó Maria, Aurora do mais belo dos dias,
Ó Maria, Lírio de pureza mais branco que a neve,
Ó Maria, nova Eva, que esmagastes a cabeça da serpente,
Ó Maria, cuja imaculada Conceição faz a glória e a felicidade da igreja triunfante e militante,
Ó Maria, que inundais de alegria o coração dos vossos filhos,
Ó Maria, cujo Nome está cheio de doçura e de bênção,
Ó Maria, modelo da vida de fé, de esperança e de amor,
Ó Maria, torre inexpugnável aos inimigos da nossa salvação,
Ó Maria, Mãe de Jesus e sempre virgem, Mãe imaculada,
Ó Maria, Depositária e Dispensadora das graças que Jesus concede aos cristãos,
Ó Maria, Esperança e Consolação dos aflitos, dos doentes e dos moribundos,
Ó Maria, Protetora poderosíssima e liberalíssima para com os que Vos invocam,
Ó Maria, que depois de Jesus sois toda a alegria e toda a felicidade dos pobres filhos de Adão,
Ó Maria, Porta radiosa da glória e das delícias do Paraíso,
Ó Maria, Arco-iris da glória e do esplendor dos bem-aventurados no Céu,
Ó Maria, cujo Coração foi inundado por um oceano de dor ao pé da cruz,
Ó Maria, concebida sem pecado, atraí-nos pelo perfume das Vossas virtudes e conduzi-nos ao Céu,
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos Senhor
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos Senhor
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós Senhor
V. Vós fostes concebida sem pecado, ó Virgem Maria
R. Rogai por nós a Deus Pai, de Quem Vós gerastes Deus Filho
OREMOS – Ó Deus, que pela Imaculada Conceição da Santíssima Virgem Maria preparastes para o Vosso Filho uma digna morada no Seu seio virginal e que A preservastes de toda a mancha para honra deste mesmo Filho.
Dignai-Vos, nós Vos suplicamos, fazer-nos a graça, pela Sua intercessão, de nos purificar de todo o pecado, de nos preservar de toda a dívida e de nos ajudar a imitar as Suas virtudes, a fim de que alcancemos a felicidade de Vos possuir eternamente. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus conVosco na unidade do Espírito Santo. Amem.
NOVENA
DA IMACULADA. 30 DE NOVEMBRO. PRIMEIRO DIA DA NOVENA
44. ESTRELA DA MANHÃ
– Maria, prefigurada e anunciada no Antigo
Testamento.
– Nossa Senhora, luz que ilumina e orienta.
– “Estrela do mar”.
O
povo cristão, por inspiração do Espírito Santo, sempre soube aproximar-se de
Deus através da sua Mãe. Pelas provas constantes das suas graças e favores,
chamou-a Onipotência
suplicante, e soube encontrar nEla o atalho que
abrevia o caminho para Deus. O amor “inventou” numerosas formas de tratá-la e
honrá-la. Hoje começamos esta Novena, em que procuraremos oferecer todos os
dias algo de especial a Nossa Senhora, para preparar a Solenidade da sua
Imaculada Conceição.
I. APARECEU UMA ESTRELA no meio da escuridão e anunciou ao
mundo em trevas que a Luz estava
para chegar. O nascimento da Virgem foi o primeiro sinal de que a Redenção
estava próxima. “A aparição de Nossa Senhora no mundo é como a chegada da
aurora que precede a luz da salvação, Cristo Jesus; é como o desabrochar sobre
a terra da mais bela flor que alguma vez brotou no jardim da humanidade: o
nascimento da criatura mais pura, mais inocente, mais perfeita, mais digna da
definição que o próprio Deus deu do homem, ao criá-lo: imagem de Deus, semelhança
de Deus. Maria restitui-nos a figura da humanidade perfeita”1.
Nunca os anjos tinham contemplado uma criatura tão bela, nunca a humanidade
terá nada de parecido.
A Virgem Santa Maria tinha sido
anunciada ao longo do Antigo Testamento. Já nos começos da Revelação se fala
dEla. No anúncio da Redenção, depois da queda dos nossos primeiros pais2,
Deus dirige-se à serpente e diz-lhe: Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua
posteridade e a dela. Ela te pisará a cabeça, e tu armarás ciladas ao seu calcanhar.
A mulher é em primeiro lugar Eva, que foi tentada e sucumbiu; e, num nível mais
profundo, a mulher é Maria, a nova Eva, de quem nascerá Cristo, absoluto
vencedor do demônio simbolizado na serpente. Perante o seu poder, o demônio não
poderá fazer nada de eficaz. NEla se dará a maior inimizade que se pode
conceber na terra entre a graça e o pecado. O profeta Isaías anuncia Maria como
a Mãe virginal do Messias3. São Mateus assinala expressamente o
cumprimento desta profecia4.
A Igreja também aplica a Maria o elogio
que o povo de Israel dirigiu a Judite, sua salvadora: Tu és a
glória de Jerusalém, tu a alegria de Israel, tu a honra do nosso povo; porque
procedeste varonilmente e o teu coração esteve cheio de coragem5.
Palavras que se cumprem em Maria de modo perfeito. Porventura não colaborou
Maria para nos livrar de um inimigo maior que Holofernes, a quem Judite cortou
a cabeça? Não cooperou para nos livrar do cativeiro definitivo?6
A Igreja aplica ainda a Maria outros
textos que, embora se refiram em primeiro lugar à Sabedoria de Deus, sugerem,
no entanto, que, no plano divino da salvação, estabelecido desde a eternidade,
está contida a imagem de Nossa Senhora. Ainda não havia os abismos, e eu já estava concebida; ainda
as fontes das águas não tinham brotado7. E como se a Escritura se antecipasse,
evocando o amor puríssimo que reinaria no seu Coração dulcíssimo, lemos: Eu sou a mãe
do amor formoso, do temor, da ciência e da santa esperança. Vinde a mim, todos
os que me desejais, e enchei-vos dos meus frutos; porque o meu espírito é mais
doce que o mel [...]. Aquele que me ouve não será confundido; e os que se guiam
por mim não pecarão8. E, vislumbrando a sua Conceição
Imaculada, o Cântico dos cânticos anuncia: És toda formosa,
amiga minha, e não há mancha em ti9. E o Eclesiástico anuncia
de uma maneira profética: Em mim se encontra toda a graça de doutrina e de
verdade, toda a esperança de vida e de virtude10.
“Com quanta sabedoria a Igreja colocou essas palavras na boca da nossa Mãe,
para que nós, os cristãos, não as esqueçamos! Ela é a segurança, o Amor que
nunca abandona, o refúgio constantemente aberto, a mão que acaricia e consola
sempre”11.
Procuremos a sua ajuda e consolo nestes dias, enquanto nos preparamos para celebrar
a grande solenidade da sua Imaculada Conceição.
II. DO MESMO MODO que Maria se encontra no alvorecer da
Redenção, nos próprios começos da revelação, encontra-se também na origem da
nossa conversão a Cristo, na nossa santidade e na nossa salvação. Por Ela
chegou-nos Cristo, e por Ela chegaram-nos e continuarão a chegar-nos todas as
graças que nos sejam necessárias.
A Santíssima Virgem facilitou-nos o
caminho para recomeçarmos tantas vezes e livrou-nos de inumeráveis perigos, que
por nós mesmos não teríamos podido vencer. Ela oferece-nos todas as coisas queconservava no seu coração12 e que dizem respeito diretamente a
Jesus: “leva-nos pela mão ao encontro do Senhor”13. A humanidade encontrou em Maria o
primeiro sinal de esperança, e todos os homens e mulheres encontram nEla a luz
que ilumina e orienta. “Ela não tem brilho próprio, brilho que brote dEla
mesma, mas reflete o seu e nosso Redentor, e dá-lhe glória constantemente.
Quando surge no meio das trevas, sabemos que Ele está perto, ao alcance da nossa
mão”14.
Diz-se que os navegantes recorriam à
estrela mais brilhante do firmamento quando se sentiam desorientados no meio do
oceano ou quando desejavam verificar ou retificar o rumo. Nós recorremos a
Maria quando nos sentimos perdidos, quando queremos retificar a direção da
nossa vida e orientá-la em linha reta para Deus: Ela é “a estrela do mar da
nossa vida”15. A
Liturgia chama-a “esperança segura de salvação”, que brilha “no meio das
dificuldades da vida”16, dessas tempestades que aparecem sem
sabermos como, ou em que nos metemos por não estarmos perto de Deus. E é São
Bernardo que nos aconselha: “Não afastes os olhos do resplendor dessa Estrela,
se não queres ser destruído pelas borrascas”17.
De Maria dimana uma luz especial que ilumina o caminho que
devemos seguir nas diferentes tarefas e assuntos da nossa vida. De modo
especial, Maria ilumina o esplêndido caminho da vocação a que cada um foi
chamado. Quando recorremos a Ela com pureza de intenção, sempre acertamos no
cumprimento da vontade de Deus.
A claridade especial que encontramos em
Maria provém da plenitude de graça que cumulou a sua alma desde o primeiro
instante em que foi concebida, bem como da sua missão corredentora. São Tomás
assinala que essa graça se derrama sobre todos os homens. “Já é grande para um
santo – afirma – ter tanta graça que seja suficiente para a salvação de muitos,
e o máximo seria tê-la em medida suficiente para salvar todos os homens do
mundo; isto verifica-se em Cristo, bem como na Santíssima Virgem”18,
pela sua íntima união corredentora com o seu Filho.
Os teólogos distinguem a plenitude
absoluta de graça, que é própria de Cristo; a plenitude de suficiência, comum a
todos os anjos; e a plenitude de sobreabundância, que é privilégio de Maria, e
que se derrama a mãos cheias sobre os seus filhos. A Virgem “é de tal maneira
cheia de graça que ultrapassa na sua plenitude os anjos; por isso, com razão, é
chamada Maria, que quer dizer iluminada [...],
e significa, além disso, iluminadora de outros, por referência ao mundo
inteiro”19,
diz São Tomás de Aquino.
Hoje, neste primeiro dia da Novena da Imaculada, fazemos o
propósito de pedir-lhe ajuda sempre que nos encontremos às escuras, sempre que
tenhamos de retificar o rumo da nossa vida ou tomar uma decisão importante. E,
como sempre estamos recomeçando, recorreremos a Ela para que nos mostre o
caminho que devemos seguir, aquele que nos confirma na nossa vocação, e
pedir-lhe ajuda para que possamos percorrê-lo com garbo humano e sentido
sobrenatural.
III. A VIRGEM é bendita entre as mulheres porque esteve isenta do pecado e das
marcas que o mal deixa na alma: “Apenas Ela conjurou a maldição, trouxe a
bênção e abriu a porta do Paraíso. É por isso que lhe convém o nome de Maria,
que significa Estrela do mar; assim como a estrela do mar orienta
os navegantes até o porto, Maria dirige os cristãos para a glória”20. A
Liturgia da Igreja honra-a assim: Ave, maris stella!... Salve, estrela do mar!, Mãe excelsa de
Deus...21
Neste primeiro dia da Novena, fazemos o
firme propósito – tão grato à Virgem! – de recorrer à sua intercessão em
qualquer necessidade em que nos encontremos, seguindo o conselho de um Padre da
Igreja: “Se se levantarem os ventos das tentações, se tropeçares com os
escolhos da tentação, olha para a Estrela, chama por Maria. Se te agitarem as
ondas da soberba, da ambição ou da inveja, olha para a estrela, chama por
Maria. Se a ira, a avareza ou a impureza impelirem violentamente a nave da tua
alma, olha para Maria. Se, perturbado com a lembrança dos teus pecados, confuso
ante a fealdade da tua consciência, temeroso ante a idéia do juízo, começares a
afundar-te no poço sem fundo da tristeza ou no abismo do desespero, pensa em
Maria. Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria.
Não se afaste Maria dos teus lábios, não se afaste do teu coração; e, para
conseguires a sua ajuda intercessora, não te afastes tu dos exemplos da sua
virtude. Não te extraviarás se a segues, não desesperarás se a chamas, não te
perderás se nEla pensas. Se Ela segurar as tuas mãos, não cairás; se te
proteger, não terás nada que temer; não te cansarás, se Ela for o teu guia;
chegarás felizmente ao porto, se Ela te amparar”22. Pomos todos os dias da nossa vida sob
o seu amparo. Ela nos levará por um caminho seguro. Cor Mariae dulcissimum iter para tutum, Coração
dulcíssimo de Maria, preparai-nos um caminho seguro.
(1) Paulo VI, Homilia,
8-IX-1964; (2) Gên 3, 15; (3) Is 7, 14; (4) Mt 1, 22-23; (5) Jud 15, 9-10; (6)
cfr. C. Pozo, María en la Escritura y en la fe de la Iglesia,
págs. 32 e segs.; (7) Prov 8, 24; (8) Eclo 24, 24-30; (9) Cânt 4, 7;
(10) Eclo 24, 25; (11) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 279; (12) Lc 2, 51; (13) cfr.
João Paulo II, Homilia, 20-X-1979; (14) Card. J. H. Newman, Rosa mística,
Palabra, Madrid, 1982, pág. 137; (15) João Paulo II, Homilia,
4-VI-1979; (16) cfr. Liturgia das Horas, Hino de laudes no
dia 15 de agosto; (17) São Bernardo, Homilias sobre a Virgem Mãe, 2; (18) São Tomás,Sobre a Ave-Maria; (19) ib.;
(20) ib.;
(21) Hino Ave,
maris stella; (22) São Bernardo,op. cit.
(WEBSITE DE FRANCISCO FERNÁNDEZ CARVAJAL)
NOVENA DA IMACULADA. 1º DE
DEZEMBRO. SEGUNDO DIA DA NOVENA
45. CASA DE OURO
– Santa Maria, Templo do Deus vivo, enriquecida
pelos dons do Espírito Santo.
– Os dons do entendimento, ciência e sabedoria em
Nossa Senhora.
– Os dons da prudência, piedade, fortaleza e
temor de Deus.
I. BEM-AVENTURADA és tu, ò Virgem
Maria, morada consagrada do Altíssimo...1
Na ladainha lauretana, chamamos a
Maria Domus aurea, Casa de ouro, recinto de intensíssimo
esplendor. Quando uma família mora numa casa e a converte num lar, este
reflete as peculiaridades, gostos e preferências dos seus moradores. A casa e
os que nela habitam constituem uma certa unidade, como o corpo e a roupa,
como o conhecimento e a ação. No Antigo Testamento, o primeiro Tabernáculo, e
depois o Templo, eram a Casa de Deus, onde tinha lugar o encontro
de Javé com o seu Povo. Quando Salomão decidiu construir o Templo, os
Profetas especificaram os materiais nobres que se deviam empregar, como a
madeira em abundância no seu interior, revestimento de ouro... Deveria
empregar-se na construção o melhor que tinham ao seu alcance, e deveriam
trabalhar nele os melhores artífices de que dispunham.
Quando chegou a plenitude dos tempos e Deus
decretou a sua vinda ao mundo, preparou Maria como a criatura adequada em que
habitaria durante nove meses, desde a sua Encarnação até o seu nascimento em
Belém. NEla, Deus imprimiu a marca do seu poder e do seu amor. Maria, Domus
aurea, o novo Templo de Deus, foi revestida de uma formosura
tão grande que não foi possível outra maior. A sua Imaculada Conceição e
todas as graças e dons com que Deus enriqueceu a sua alma estiveram em função
da sua Maternidade divina2.
Entende-se muito bem que o Arcanjo Gabriel, ao
saudar Maria, se tenha mostrado cheio de respeito e veneração, pois
compreendeu a imensa excelência da Virgem e a sua intimidade com Deus. A
graça inicial de Maria, que a preparava para a sua Maternidade divina, foi
superior à de todos os Apóstolos, mártires, confessores e virgens juntos,
superior à de todas as almas santas e à de todos os anjos criados desde a
origem do mundo3. Deus preparou uma criatura humana de acordo com
a dignidade do seu Filho.
Quando dizemos que Maria tem uma dignidade “quase
infinita”, queremos indicar que é a criatura mais próxima da Santíssima
Trindade e que goza de uma honra e majestade altíssimas, inteiramente
singulares. É a Filha primogênita do Pai, a predileta, como foi chamada
tantas vezes na Tradição da Igreja e o Concílio Vaticano II repetiu4. Com
Jesus Cristo, Filho de Deus, Nossa Senhora mantém o estreito laço da
consangüinidade, que a faz ter com Ele umas relações absolutamente próprias.
Maria é Templo e Sacrário do Espírito Santo5. Que
alegria podermos ver, especialmente nestes dias da Novena, que temos uma Mãe
tão próxima de Deus, tão pura e bela, e tão próxima de nós!
“Como
gostam os homens de que lhes recordem o seu parentesco com personagens da
literatura, da política, do exército, da Igreja!...
“–
Canta diante da Virgem Imaculada, recordando-lhe:
“Ave, Maria, Filha de Deus Pai; Ave, Maria, Mãe
de Deus Filho; Ave, Maria, Esposa de Deus Espírito Santo... Mais do que tu,
só Deus!”6
II. A ALMA DE MARIA foi singularmente
enriquecida pelos dons do Espírito Santo, que são como que as jóias mais
preciosas que Deus pode conceder ao ser humano. Com eles, Deus adornou em
grau supremo a morada do seu Filho.
Pelo dom do entendimento, que teve
num grau superior ao de qualquer criatura, Maria teve conhecimento com uma fé
pura, radicada na autoridade divina, de que a sua virgindade era sumamente
grata ao Senhor. O seu olhar penetrou com a maior profundidade no sentido
oculto das Escrituras, e compreendeu imediatamente que a saudação do Anjo era
estritamente messiânica e que a Santíssima Trindade a tinha designado como
Mãe do Messias esperado há tanto tempo. Depois teria sucessivas iluminações
que confirmariam o cumprimento das promessas divinas de salvação e
compreenderia que “deveria viver no sofrimento a sua obediência de fé ao lado
do Salvador que sofre, e que a sua maternidade seria obscura e dolorosa”7.
O dom do entendimento está intimamente ligado à
pureza de alma, e é por isso que se relaciona com a bem-aventurança dos
limpos de coração, que verão a Deus8. A
alma de Maria, a Puríssima, gozou de especiais iluminações que a
levaram a descobrir o querer de Deus em todos os acontecimentos. Ninguém
soube melhor do que Ela o que Deus espera de cada homem; por isso, é a nossa
melhor aliada nos pedidos que dirigimos a Deus nas nossas necessidades.
O dom da ciência ampliou ainda
mais o olhar da fé de Maria. Por meio dele, a Virgem contemplava nas
realidades cotidianas as marcas de Deus no mundo, como pistas
para chegar até o Criador, e julgava retamente a relação de todas as coisas e
acontecimentos com a salvação. Influenciada por esse dom, tudo lhe falava de
Deus, todas as coisas a levavam a Deus9. Entendeu melhor do que
ninguém a terrível realidade do pecado, e por isso sofreu, como nenhuma outra
criatura, pelos pecados dos homens. Intimamente associada à
dor do seu Filho, padeceu com Ele “quando morria na Cruz, cooperando de forma
totalmente singular na restauração da vida sobrenatural das almas”10.
O dom da sabedoria aperfeiçoou a
sua caridade e levou-a a ter um conhecimento gozoso e experimental do divino
e a saborear na sua intimidade os mistérios que se referiam especialmente ao
Messias, seu Filho. A sua sabedoria era amorosa, infinitamente superior à que
se pode obter dos mais profundos tratados de Teologia. Via, contemplava,
amava e ordenava todas as coisas de acordo com essa experiência divina;
julgava-as com a luz poderosa e amorosa que inundava o seu coração. Se lho
pedirmos com insistência, Ela no-lo alcançará, pois “entre os dons do
Espírito Santo, diria que há um de que todos nós, cristãos, necessitamos
especialmente: o dom da sabedoria, que nos faz conhecer e saborear Deus, e
nos coloca assim em condições de podermos avaliar com verdade as situações e
as coisas desta vida”11.
III. O DOM DE CONSELHO aperfeiçoou
a virtude da prudência na Virgem e fez com que sempre descobrisse prontamente
a Vontade de Deus nas situações correntes da vida. Agiu como que sob o ditado
de Deus12 e deixou-se guiar docilmente, quer nas
grandes coisas que Deus lhe pediu, quer nos pormenores corriqueiros do
dia-a-dia.
O Evangelho mostra-nos como a nossa Mãe Santa
Maria se deixou conduzir continuamente por essa luz do Espírito Santo. Viveu
a maior parte da sua vida no retiro de Nazaré, mas quando a sua presença se
fez necessária junto da sua prima Isabel, foi com pressa13 às
montanhas para estar ao lado dela. Ocupa um lugar discreto nos episódios
narrados pelo Evangelho, mas está com os discípulos quando eles precisam dEla
depois da morte de Jesus, e a seguir espera com eles a vinda do Espírito
Santo. Permanece ao pé da Cruz, mas não vai ao sepulcro com as outras santas
mulheres: na intimidade da sua alma, sabia que elas não encontrariam o corpo
amado do seu Filho, porque já tinha ressuscitado. Viveu totalmente entregue
aos pequenos afazeres de uma mãe que cuida da família, e percebeu antes que
ninguém que ia faltar vinho nas bodas de Caná: a sua vida contemplativa fê-la
estar atenta às pequenas coisas que aconteciam à sua volta. Ela é a Mãe do
Bom Conselho –Mater boni consilii –, que nos ajudará, nos mil
pequenos episódios de cada dia, a descobrir e secundar o querer de Deus.
O dom da piedade deu à Virgem
uma espécie de instinto filial que afetava profundamente todas as suas
relações com Jesus: na oração, à hora de pedir, na maneira como enfrentava os
diversos acontecimentos, nem sempre agradáveis...
Maria
sentiu-se sempre Filha de Deus, e esse sentimento profundo foi crescendo
continuamente até o fim da sua vida mortal. Mas, ao mesmo tempo, sentia-se
Mãe de Deus e Mãe dos homens. Tanto a sua filiação como a sua Maternidade
estavam profundamente saturadas de piedade. Ela sempre nos amará, porque somos
seus filhos. E uma mãe está mais perto do filho doente, daquele que mais
precisa dela.
A graça divina derramou-se sobre Nossa Senhora de
modo abundantíssimo, e encontrou nEla uma cooperação e docilidade
excepcionais: viveu com heroísmo a fidelidade aos pequenos deveres de todos
os dias e nas grandes provas. Teve uma vida simples, como a das outras
mulheres da sua terra e da sua época, mas também passou pela maiores
amarguras que uma criatura pode experimentar, à exceção do seu Filho, que foi
o Varão de dores anunciado pelo profeta Isaías14.
Pelo dom da fortaleza, que recebeu em
grau máximo, pôde acolher com paciência as contradições diárias, as mudanças
de planos... Enfrentou silenciosamente as dificuldades, mas com firmeza e
valentia. Por essa fortaleza, esteve de pé junto da Cruz15. A
piedade cristã, venerando essa sua atitude de dor e de fortaleza, invoca-a
comoRainha dos mártires, Consoladora dos aflitos...
Finalmente, o Espírito Santo adornou-a com o santo
temor de Deus, que nEla foi apenas uma reverência filial de altíssima
intimidade com o Senhor, que a levou a uma atitude de adoração contínua
perante o Deus infinito, de quem recebera todas as coisas. Por isso chamou-se
a si mesma a Escrava do Senhor.
(1) Cfr. Missas da Virgem Maria, A Virgem, templo
do Senhor, Antífona da Comunhão; (2) cfr. São Tomás, Summa theologica, III, q. 27, a. 5 ad 2; (3) cfr.
R. Garrigou-Lagrange, A Mãe do Salvador, pág. 411; (4)
cfr. Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 53; (5) cfr.
João Paulo II, Enc. Redemptoris Mater, 25-III-1987, 9;
(6) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 496; (7)
João Paulo II, Enc. Redemptoris Mater, 16; (8) Mt 5,
8; (9) cfr. J. Polo, Maria y la
Santísima Trinidad, Madrid, 1987, MC n. 460, pág. 29; (10) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 61; (11) Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 133; (12) cfr. J. Polo, op. cit., pág. 39; (13) Lc 1, 39; (14) Is 53, 3; (15) cfr. Jo 19, 25.
NOVENA DA IMACULADA. 2 DE DEZEMBRO. TERCEIRO DIA DA NOVENA
46. ESCRAVA DO SENHOR
– A vocação de Maria.
– Deus chama-nos.
– Meios para conhecer a vontade do Senhor.
I. O MEU ESPÍRITO exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque pôs os olhos na baixeza da sua escrava1.
Quando chegou a plenitude dos tempos, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré2. O Senhor dirige-se a quem mais amava nesta terra e serve-se para isso de um mensageiro excepcional, pois era excepcional a mensagem que lhe queria comunicar: Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus...3, diz-lhe o Arcanjo São Gabriel.
A Virgem, como fruto da sua meditação, conhecia bem as Escrituras e as passagens que se referiam ao Messias, e eram-lhe familiares as diversas formas empregadas para designá-lo. Além disso, unia-se a esse conhecimento a sua extraordinária sensibilidade interior para tudo o que dizia respeito ao Senhor. Num instante, por uma graça particular, foi-lhe revelado que ia ser a Mãe do Messias, do Redentor de quem tinham falado os Profetas. Ia ser a virgem anunciada por Isaías4, que conceberia e daria à luz o Emmanuel, o Deus conosco. A resposta da Virgem é uma reafirmação da sua entrega à vontade divina: Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra5.
A partir desse momento, o Verbo de Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, fez-se carne nas suas entranhas puríssimas. Foi o que de mais admirável e assombroso aconteceu desde a Criação do mundo. E aconteceu num pequeno povoado desconhecido, na intimidade de Maria. A Virgem compreendeu a sua vocação, os planos de Deus a seu respeito. Agora sabia o motivo de tantas graças do Senhor, a razão das suas qualidades, por que tinha sido sempre tão sensível às inspirações do Espírito Santo. “Todos os pequenos episódios que constituíam a trama da sua existência – e essa mesma existência na sua totalidade – ganhavam agora um relevo imprevisto; ao som das palavras do anjo, tudo teve uma explicação absoluta, mais que metafísica, sobrenatural. Foi como se, de repente, a Virgem se tivesse colocado no centro do universo, para além do tempo e do espaço”6.
E Ela, uma adolescente, não titubeia diante da grandeza incomensurável de ser a Mãe de Deus, porque é humilde e confia no seu Deus, a quem se entregou plenamente. A Virgem Santa Maria é “Mestra de entrega sem limites [...]. Pede a esta Mãe boa que ganhe força na tua alma – força de amor e de libertação – a sua resposta de generosidade exemplar: «Ecce ancilla Domini» – eis a escrava do Senhor”7. Senhor, conta comigo para o que quiseres. Não quero pôr limite algum à tua graça, ao que me vais pedindo todos os dias, todos os anos. Nunca deixas de pedir, nunca deixas de dar.
II. “ESTE FATO FUNDAMENTAL de ser a Mãe do Filho de Deus é, desde o princípio, uma abertura total à pessoa de Cristo, a toda a sua obra e à sua missão”8.
Neste terceiro dia da Novena da Imaculada, a Virgem ensina-nos a estar sempre abertos a Deus, numa entrega plena à chamada que cada um recebe do Senhor. A grandeza de uma vida consiste em podermos dizer ao fim dela: Senhor, sempre procurei cumprir a tua vontade, não tive outro fim nesta terra.
A vocação a que fomos chamados é o maior dom recebido de Deus, o dom para o qual o Senhor nos criou, aquilo que nos torna felizes. Deus chama-nos a todos e quer algo importante de nós, desde o momento em que nos chamou à existência. A grandeza do homem consiste em conhecer a vontade divina e levá-la a cabo, tornando-se colaborador de Deus na obra da Criação e da Redenção. Encontrar a vocação é encontrar um tesouro, a pérola preciosa9. Gastar todas as energias nela é encontrar o sentido da vida, a plenitude do ser.
Deus chama alguns à vida religiosa ou ao sacerdócio; “mas quer a grande maioria dos homens no meio do mundo, nas ocupações terrenas. Estes cristãos devem, pois, levar Cristo a todos os ambientes em que desenvolvem as suas tarefas humanas: à fábrica, ao laboratório, ao cultivo da terra, à oficina do artesão, às ruas das grandes cidades e aos caminhos de montanha”, e ali devem eles agir “de tal modo que, através das ações do discípulo, se possa descobrir o rosto do Mestre”10.
Contemplando a vocação de Santa Maria, compreendemos melhor que as chamadas feitas pelo Senhor são sempre uma iniciativa divina, uma graça que parte dEle: Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi11. Não poucas vezes, cumprem-se ao pé da letra as palavras da Escritura: Os meus caminhos não são os vossos caminhos...12 O que tínhamos forjado na nossa imaginação, talvez com tanto entusiasmo, tem às vezes pouco a ver com os projetos do Senhor, que sempre são maiores, mais altos e mais belos.
A vocação também não é a culminância de uma vida de piedade intensa, ainda que normalmente seja necessário um clima de oração e de amor para entender o que Deus nos diz silenciosamente, sem muito ruído. Nem sempre coincide com as nossas inclinações e gostos, ordinariamente muito humanos e pegados à terra. A vocação não pertence à ordem do sentimento, mas à ordem do ser; é algo objetivo que Deus nos preparou desde sempre. Em cada homem, em cada mulher, cumprem-se as palavras de São Paulo aos cristãos de Éfeso13, tantas vezes meditadas: Elegit nos in ipso ante mundi constitutionem..., “o Senhor escolheu-nos antes da criação do mundo, por amor, para sermos santos e imaculados na sua presença”.
Ordinariamente, Deus procura para as suas obras pessoas correntes, simples, às quais comunica as graças necessárias. Ensina São Tomás, referindo-se à Virgem, que “àqueles a quem Deus escolhe para uma missão, prepara-os de modo que sejam idôneos para desempenhar essa missão para a qual foram escolhidos”14. Isso é válido para todos nós. Portanto, se alguma vez nos parece difícil levarmos a cabo a missão a que fomos chamados, sempre poderemos dizer: porque tenho vocação para esta missão, tenho as graças necessárias e poderei cumpri-la. Deus me ajudará, se fizer tudo o que está ao meu alcance.
O Senhor pode preparar uma vocação desde a infância, mas também pode apresentar-se de modo súbito e inesperado, como aconteceu com São Paulo na estrada de Damasco15. Geralmente, serve-se de outras pessoas para preparar a chamada definitiva ou para dá-la a conhecer. Com freqüência, são os próprios pais quem, mesmo sem o perceberem, cumprindo a sua missão de educadores na fé, preparam o terreno onde germinará a semente da vocação, que só Deus põe na alma. Que grandeza poderem ser assim instrumentos de Deus! O que não fará Deus por eles? Outras vezes, serve-se de um amigo ou de uma moção interior que penetra como espada de dois gumes, e, freqüentemente, das duas coisas ao mesmo tempo.
Se existe um verdadeiro desejo de conhecer a vontade de Deus, se se empregam os meios sobrenaturais e a alma é sincera na direção espiritual, o Senhor dá então muito mais garantias de acertar na própria vocação do que em qualquer outro assunto. “Queres viver a audácia santa, para conseguir que Deus atue através de ti? – Recorre a Maria, e Ela te acompanhará pelo caminho da humildade, de modo que, diante dos impossíveis para a mente humana, saibas responder com um “fiat!” – faça-se! – que una a terra ao Céu”16. É uma audácia que nos será necessária no momento em que dissermos sim a Deus e seguirmos a nossa vocação, e depois muitas vezes ao longo da vida, pois Deus nos chama todos os dias, a todas as horas. E se alguma vez depararmos com “impossíveis”, deixarão de sê-lo se formos humildes e contarmos com a graça, como fez nossa Mãe Santa Maria.
III. A VIRGEM ENSINA-NOS que, para acertarmos no cumprimento da vontade divina (que pena se nos tivermos empenhado – por uns caminhos ou outros – em satisfazer os nossos caprichos!), é necessária uma disponibilidade completa. Só podemos cooperar com Deus quando nos entregamos completamente a Ele, deixando-o agir na nossa vida com total liberdade. “Deus não pode comunicar a sua vontade se não começa por haver na alma da criatura esta apresentação íntima, esta consagração profunda. Deus respeita sempre a liberdade humana, não atua diretamente nem se impõe a não ser na medida em que o deixamos agir”17.
A vida da Virgem Maria indica-nos também que, para ouvirmos o Senhor em todas as circunstâncias, devemos esmerar-nos no trato com Ele: ponderar, como Ela, as coisas no nosso coração, dar-lhes peso e conteúdo sob o olhar de Cristo: aprender a meditar, levantar o ponto de mira dos nossos ideais. A direção espiritual, junto com a oração, pode ser de grande ajuda para entendermos o que Deus quer e vai querendo de nós. E também o será o desprendimento dos nossos gostos, para aderirmos com firmeza àquilo que Deus nos pede, ainda que alguma vez possa parecer-nos difícil e árduo.
A resposta da Virgem foi como um programa daquilo que seria depois a sua vida: Ecce ancilla Domini... Ela não teria outro fim senão cumprir a vontade de Deus. Podemos deixar hoje nas mãos da Virgem um sim que Ela possa apresentar ao seu Filho, um sim sem reservas nem condições, que perdure e se desdobre em outros sins ao longo da nossa vida.
(1) Missas da Virgem Maria, Santa Maria Escrava do Senhor; Lc 1, 47-48; Antífona de entrada da Missa do dia 2 de dezembro; (2) Lc 1, 26; (3) Lc 1, 30-33; (4) Is 7, 14; (5) Lc 1, 38; (6) F. Suárez, A Virgem Nossa Senhora, pág. 14; (7) cfr. Josemaría Escrivá, Sulco, n. 33; (8) João Paulo II, Enc. Redemptoris Mater; (9) cfr. Mt 13, 44-46; (10) Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 105; (11) Jo 15, 16; (12) Is 55, 8; (13) Ef 1, 4; (14) São Tomás, S.Th., III, q. 27, a. 4 c; (15) cfr. At 9, 3; (16) Josemaría Escrivá, Sulco, n. 124; (17) M. D. Philippe, Mistério de Maria, págs. 86-87.
(WEBSITE DE FRANCISCO FERNÁNDEZ CARVAJAL)
NOVENA DA
IMACULADA. 3 DE DEZEMBRO. QUARTO DIA DA NOVENA
48. CAUSA DA
NOSSA ALEGRIA
–
A alegria verdadeira chega ao mundo com Maria.
–
Ela ensina-nos a ser motivo de alegria para os outros.
–
Abandonar toda a tristeza.
I.
Ó DEUS, QUE PELA ENCARNAÇÃO do vosso Filho enchestes o mundo de alegria,
concedei-nos, aos que veneramos a sua Mãe, causa da nossa alegria, que
permaneçamos sempre no caminho dos vossos mandamentos, para que os nossos
corações estejam firmes na verdadeira alegria1.
A
verdadeira alegria está em Deus, e tudo o que nos chega dEle sempre vem com
esse sinal. Quando Deus criou este mundo do nada, e de modo especial quando
criou o homem à sua imagem e semelhança, tudo foi uma festa. Há uma alegria
contida na expressão com que se conclui o relato da criação: E Deus viu que era
muito bom tudo o que tinha feito2. Os nossos primeiros pais desfrutavam de tudo
o que existia e exultavam no amor, louvor e gratidão a Deus. Não conheciam a
tristeza.
Mas
chegou o primeiro pecado, e com ele algo de perturbador envolveu o coração
humano. A clara e luminosa alegria foi substituída pelo pesar, e a tristeza
infiltrou-se no íntimo das coisas. Com a Imaculada Conceição de Maria, veio ao
mundo, silenciosamente, o primeiro fulgor de alegria autêntica. O seu
nascimento foi um imenso júbilo para a Santíssima Trindade, que olhava
comprazida para o mundo porque nele estava agora presente a Virgem Maria. E com
o faça-se, pelo qual Nossa Senhora deu o seu assentimento aos planos divinos da
Redenção, esse júbilo derramou-se sobre toda a humanidade.
Quando
Deus “quer trabalhar uma alma, elevá-la ao cume do seu amor, estabelece-a
primeiro na sua alegria”3. Foi o que a Santíssima Trindade fez com a Virgem. E
a plenitude dessa alegria é dupla: em primeiro lugar, porque Maria está cheia
de graça, cheia de Deus, como nunca esteve nem chegará a estar nenhuma outra
criatura; em segundo lugar, porque desde o momento do seu assentimento à
embaixada do Anjo, o Filho de Deus assumiu a natureza humana nas suas entranhas
puríssimas: com Ele, chegou aos homens toda a alegria verdadeira. O anúncio do
seu nascimento em Belém será levado a cabo com estas significativas palavras:
Não temais, porque eis que vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo
o povo. Nasceu-vos na cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor4.
Cristo é a grande alegria, que cura as tristezas do coração; e Nossa Senhora
foi a Causa da nossa alegria verdadeira, porque com o seu assentimento deu-nos
Cristo, e atualmente, todos os dias, nos leva a Ele e no-lo entrega novamente.
O
caminho da vida interior conduz a Jesus por meio de Maria. A alegria – não
podemos esquecê-lo nunca – é estar com Jesus, ainda que nos vejamos rodeados de
dores e contradições por todos os lados; a única tristeza seria não o possuir.
“Esta experiência viva de Cristo e da nossa unidade é o lugar da esperança e é,
portanto, fonte de gosto pela vida; e deste modo, torna possível a alegria; uma
alegria que não se vê obrigada a esquecer ou a censurar nada para ter
consistência”5.
II.
A VIRGEM LEVA A ALEGRIA aonde quer que vá. E aconteceu que, apenas Isabel ouviu
a saudação de Maria, o menino saltou no seu ventre e Isabel ficou cheia do
Espírito Santo6. É a proximidade de Maria, que leva no seu seio o Filho de
Deus, a causa de tanto alvoroço naquela casa, de um alvoroço que até o Batista
ainda não nascido manifesta no ventre de sua mãe. “Na presença do Senhor –
escreve São João Crisóstomo –, não pode conter-se nem suporta esperar os prazos
da natureza, mas procura romper a prisão do seio materno e cuida de dar
testemunho de que o Salvador está prestes a chegar”7.
A
Virgem ensina-nos a ser causa de alegria para os outros no seio da família, no
trabalho, nas relações com as pessoas com quem convivemos ou com quem entramos
em contacto, mesmo de passagem, como por exemplo numa entrevista, numa viagem
ou no ponto de espera de um ônibus que demora a chegar.
Deve
acontecer-nos o mesmo que a essas fontes que existem em muitos povoados, onde
as mulheres do lugar vão buscar água. Umas carregam grandes vasilhas, e a fonte
as enche; outras são menores, e também ficam cheias até à borda; outras estão
sujas, e a fonte as limpa... Sempre acontece que todo o cântaro que vai à fonte
volta cheio. E assim deve acontecer na nossa vida: qualquer pessoa que se
aproxime de nós deve partir com mais paz, com alegria. Todo aquele que nos
visite por estarmos doentes, ou por amizade, vizinhança, relações de
trabalho..., deve despedir-se de nós um pouco mais alegre.
A
água da fonte, normalmente, vem de outro lugar. A origem da nossa alegria está
em Deus, e a Virgem leva-nos a Ele. Quando uma fonte não tem água, enche-se de
muita sujidade; como a alma que deixou de ser manancial de paz para os outros,
porque possivelmente as suas relações com o Senhor não são claras. “Não há
alegria? Então pensa: há um obstáculo entre Deus e mim. – Quase sempre
acertarás”8. E uma vez descoberto esse obstáculo, Nossa Senhora ajudar-nos-á a
tirá-lo.
A
alegria – ensina São Tomás de Aquino – nasce do amor9. E o amor tem tanta força
“que esquecemos a nossa alegria para alegrar aqueles que amamos. E
verdadeiramente é assim, a tal ponto que, mesmo que sejam grandíssimos os
trabalhos, sabendo que contentam a Deus, tornam-se doces”10. O trato com Jesus
faz-nos passar por cima das diferenças ou pequenas antipatias que podem surgir
em algum momento, para chegarmos ao fundo da alma daqueles com quem convivemos,
freqüentemente sedentos de um sorriso, de uma palavra amável, de uma resposta
cordial.
Neste
quarto dia da Novena à Imaculada, podemos examinar como é a nossa alegria: se é
caminho para que os outros encontrem a Deus, se somos luz e não cruz para
aqueles com quem estamos habitualmente numa relação mais intensa. Hoje, podemos
oferecer a Nossa Senhora o propósito firme e sincero de ser semeadores de
alegria, de “tornar amável e fácil o caminho aos outros, que já bastantes
amarguras traz a vida consigo”11. É um modo cordial de imitarmos a Virgem, que
dos Céus nos sorrirá e nos animará a seguir por esse caminho ao encontro do seu
Filho. E isso tanto nos dias em que nos seja fácil alegrar os outros, como
também naqueles em que, por cansaço ou por estarmos sobrecarregados, sorrir e
manifestar bom-humor nos custe um pouco mais. Nessas ocasiões, a nossa Mãe do
Céu – Mater amabilis – ajudar-nos-á especialmente.
III.
AQUELES QUE ESTIVERAM perto de Nossa Senhora participaram da imensa alegria e
da paz inefável que inundavam a sua alma, pois nEla se refletia “a riqueza e a
formosura com que Deus a engrandeceu. Principalmente, por ter sido redimida e
preservada em Cristo, e nEla reinarem a vida e o amor divinos. A isso se
referem algumas invocações da ladainha: Mãe amável, Mãe admirável, Virgem
prudentíssima, poderosa, fiel... Sempre uma nova alegria brota dEla, quando
está diante de nós e a olhamos com respeito e amor. E se, ao contemplá-la,
alguma fração da sua formosura vem e penetra na nossa alma, tornando-a também
formosa, como se torna grande a nossa alegria!”12 Não nos custa nada imaginar
como todos os que tiveram a felicidade de conhecê-la desejariam estar perto
dEla! Os vizinhos viriam com freqüência à sua casa, e os amigos, e os
parentes... Ninguém ouviu dos seus lábios queixas ou lamentações pessimistas,
mas presenciou apenas os seus desejos de servir, de dar-se, convertidos em
detalhes.
Quando
a alma está alegre – com penas e lágrimas, às vezes – extravasa-se e é estímulo
para os outros; a tristeza, pelo contrário, obscurece o ambiente e faz-lhe mal.
Assim como a traça come o vestido, e o caruncho a madeira, assim a tristeza
prejudica o coração do homem13; e prejudica a amizade, a vida de família...,
tudo: predispõe para o mal. Por isso, devemos lutar rapidamente contra esse
estado de ânimo, se alguma vez nos pesa no coração: Fixa o teu coração na
santidade do próprio Deus e afugenta para longe de ti a tristeza. Porque a
tristeza tem matado a muitos, e não há utilidade nela14.
O
esquecimento de si mesmo, uma serena despreocupação pelos problemas próprios,
que poucas vezes são realmente importantes, uma confiança mais plena em Deus
são condições necessárias para estarmos alegres e servirmos os que nos rodeiam.
Quem anda preocupado consigo mesmo dificilmente encontrará a alegria, que é
abertura para Deus e para os outros. Em contrapartida, a nossa alegria será em
muitas ocasiões um caminho para que os outros encontrem a Deus.
A
oração abre a alma ao Senhor, e é nela que podemos encontrar forças para
aceitar uma contrariedade, para abandonar nas mãos de Deus as coisas que nos
preocupam; é a oração que nos leva a ser mais generosos e a fazer uma boa
Confissão, se a raiz da nossa tristeza e mau-humor estiver na tibieza ou no
pecado.
Terminamos
a nossa oração dirigindo-nos à Virgem: “Causa nostrae laetitiae!, Causa da nossa
alegria, rogai por nós! Ensinai-nos a saber acolher na fé o paradoxo da alegria
cristã, que nasce e floresce da dor, da renúncia, da união com o vosso Filho
crucificado: fazei com que a nossa alegria seja sempre autêntica e plena, para
podermos comunicá-la a todos”15.
Ofereçamos
à nossa Mãe do Céu, neste dia da Novena, o firme propósito de rejeitarmos
sempre a tristeza e de sermos causa de paz e de alegria para os outros.
(1) Missas da Virgem Maria, II, Missa de
Santa Maria, Causa da nossa alegria. Oração coleta; (2) Gên 1, 31; (3) M. D.
Philippe, Mistério de Maria, pág. 134; (4) Lc 2, 10-11; (5) L. Giussani, La
utopia y la presencia, em 30 Dias, 8.9.1990, pág. 9; (6) Lc 1, 41; (7) São João
Crisóstomo, Sermão recolhido por Metafrasto; (8) Josemaría Escrivá, Caminho, n.
662; (9) São Tomás, Summa theologica, II-II, q. 28, a. 4; (10) Santa Teresa,
Livro das Fundações, 5, 10; (11) cfr. Josemaría Escrivá, Sulco, n. 63; (12) F.
M. Moschner, Rosa mística, Rialp, Madrid, 1957, pág. 180; (13) Prov 25, 20; (14)
Ecle 30, 24-25; (15) João Paulo II, Homilia, 31-V-1979.
NOVENA DA IMACULADA. 4 DE DEZEMBRO. QUINTO DIA DA NOVENA
49. ROSA MÍSTICA
– Sempre com Jesus.
Vida de oração.
–
Aprender a rezar.
–
As orações vocais. O Santo Rosário.
I. MARIA CONSERVAVA todas estas coisas, meditando-as
no seu coração1. E a sua mãe conservava
todas estas coisas no seu coração2. Por duas
vezes o Evangelista se refere a esta atitude de Maria diante dos
acontecimentos: uma na noite de Belém, e a outra em Nazaré, ao regressar de
Jerusalém depois de encontrar Jesus no Templo. A insistência do Evangelista
parece um eco da repetida reflexão de Maria, que deve tê-la confidenciado aos
Apóstolos depois da Ascensão de Jesus aos céus.
A
Virgem conservava e meditava. Sabia recolher-se interiormente, guardava e
avaliava na sua intimidade, isto é, tornava tema da sua oração os grandes e
pequenos acontecimentos da sua vida. Esta oração contínua de Maria é como o
aroma da rosa “que se eleva constantemente para Deus. Essa elevação nunca
cessa, tem um frescor primaveril; é sempre jubilosamente nova e virginal. Se a
brisa das nossas orações ou os ventos tempestuosos deste mundo passam por Ela e
a tocam, o perfume da sua oração eleva-se então em tons mais fortes e
perceptíveis; Maria converte-se em intercessora, incluindo a nossa oração na
sua para apresentá-la ao Pai em Jesus Cristo, seu Filho”3.
Quando
estava nesta terra, a Virgem não fazia nada que não fosse por referência ao seu
Filho: cada vez que falava com Jesus, e quando o fitava, quando lhe sorria ou
pensava nEle, orava, pois a oração é isso: é falar com Deus4.
Em
Caná da Galiléia, nas bodas daqueles parentes ou amigos, ensina-nos com que
delicadeza e insistência devemos pedir. “Apesar de ser a Mãe de Jesus, de o ter
embalado nos seus braços, Maria abstém-se de lhe indicar o que pode fazer.
Expõe a necessidade e deixa o resto ao critério do Filho, na certeza de que a
solução que Ele der ao problema, seja qual for e em que sentido for, será a
melhor, a mais conveniente. Deixa a mais ampla liberdade ao Senhor, para que
faça a sua vontade sem compromissos nem violências. Mas isso porque estava
certa de que a vontade do Filho era o que de mais perfeito se podia fazer e o
que deveras resolvia a questão. Não tolhe os movimentos do seu Filho, antes
confia na sua sabedoria, no seu conhecimento superior, na sua visão mais ampla
e profunda das circunstâncias que Ela provavelmente desconhecia. Nossa Senhora
nem sequer considerou se Jesus acharia conveniente ou não intervir: expõe o que
sucede e abandona-o nas suas mãos. É que a fé compromete o Senhor muito mais do
que os argumentos mais sagazes e contundentes”5.
Ao
pé da Cruz, a Virgem anima-nos a estar sempre junto de Jesus, em oração
silenciosa, nos momentos mais duros da vida. E a última notícia que dEla nos dá
o Evangelho no-la retrata entre os Apóstolos, orando com eles6, à espera da chegada do Espírito Santo.
“O
Santo Evangelho facilita-nos brevemente o caminho para entendermos o exemplo da
nossa Mãe: Maria conservava todas estas coisas dentro de si, ponderando-as
no seu coração (Lc 2, 19). Procuremos nós imitá-la, conversando com o
Senhor, num diálogo enamorado, de tudo o que se passa conosco, até dos
acontecimentos mais triviais. Não esqueçamos que temos de pesá-los, avaliá-los,
vê-los com olhos de fé, para descobrir a Vontade de Deus”7. É a isso que nos deve levar a nossa meditação
diária: a identificar-nos plenamente com Jesus, a dar um conteúdo divino aos
pequenos acontecimentos diários.
II. O AROMA DA NOSSA ORAÇÃO deve subir constantemente ao nosso
Pai-Deus. Mais ainda: pedimos a Nossa Senhora – que já está no Céu em corpo e
alma – que diga a Jesus constantemente coisas boas de nós: Recordare, Virgo
Mater Dei, dum steteris in conspectu Domini, ut loquaris pro nobis bona...
“Lembrai-vos, Virgem Mãe de Deus, quando estiverdes na presença do Senhor, de
dizer-lhe coisas boas em nosso favor”8. E Ela,
do Céu, anima-nos a nunca abandonar a oração, o trato com Deus, pois a oração é
a nossa fortaleza diária.
Devemos
chegar a um trato cada vez mais íntimo com o Senhor na nossa oração mental –
nesses tempos diários que dedicamos a falar-lhe silenciosamente dos nossos
assuntos, a dar-lhe graças, a pedir-lhe ajuda e a dizer-lhe que o amamos... – e
mediante a oração vocal, empregando muitas vezes as palavras que serviram a
tantas gerações para elevar os seus corações e os seus pedidos ao Senhor e à
sua Santíssima Mãe.
A
oração robustece-nos contra as tentações. Às vezes, leva-nos a ouvir as mesmas
palavras que Jesus dirigiu aos seus discípulos no horto de Getsêmani: Por
que dormis? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação9. Devemos rezar sempre, mas há momentos em que temos
de fazê-lo mais intensamente, porque talvez sejam maiores as dificuldades
familiares ou profissionais, ou mais fortes as tentações. A oração mantém-nos
vigilantes contra o inimigo que ataca e fortalece-nos o espírito perante as
dificuldades.
A
Virgem Santa Maria ensina-nos hoje a ponderar no nosso coração e a dar sentido
na presença de Deus a tudo aquilo que constitui a nossa vida: ao que nos parece
uma grande desgraça, às pequenas contrariedades, às alegrias, à rotina do
trabalho diário, às trivialidades da vida familiar, à amizade...
Como
Maria, acostumemo-nos a procurar o Senhor na intimidade da nossa alma em graça.
“Alegra-te com Ele no teu recolhimento interior. Alegra-te com Ele, já que o
tens tão perto. Deseja-o aí; adora-o aí; não o procures fora de ti, porque te
distrairás e te cansarás, e não o encontrarás; não poderás fruir dEle com maior
certeza nem com mais rapidez nem mais perto do que dentro de ti”10.
Nenhuma
pessoa neste mundo soube tratar Jesus como a sua Mãe; e, depois dEla, São José,
que passou longas horas olhando-o, contemplando-o, falando com Ele dos pequenos
assuntos diários, com simplicidade e veneração. Se recorrermos a eles com fé
antes de começarmos a nossa oração mental diária, veremos como nos ajudam a
conversar afetuosamente com o Senhor nesses minutos de silêncio e de colóquio
íntimo.
III. NA ORAÇÃO MENTAL, falamos com o Senhor de pessoa a pessoa,
entendemos o que Ele quer de nós, vemos com outra profundidade o conteúdo da
Sagrada Escritura, pois “a compreensão tanto das coisas como das palavras
transmitidas cresce quando os fiéis as contemplam e estudam, repassando-as no
seu coração”11.
Juntamente
com esse “ponderar as coisas no coração”, também é muito grata ao Senhor a
oração vocal, como o foi sem dúvida a da Virgem, pois Ela certamente recitaria
Salmos e outras fórmulas contidas no Antigo Testamento, próprias do povo hebreu12. Quando começamos o trabalho, ao terminá-lo, ao
caminharmos pela rua, ao subirmos ou descermos as escadas da nossa casa..., a
nossa alma inflama-se com as orações vocais e a nossa vida converte-se, pouco a
pouco, numa contínua oração: recitamos o Pai-Nosso, a Ave-Maria,
jaculatórias que nos ensinaram ou que aprendemos ao lermos e meditarmos o Santo
Evangelho, extraídas das palavras com que muitos personagens que se aproximavam
do Senhor lhe pediam que os curasse, perdoasse, abençoasse... Algumas dessas
jaculatórias foram-nos ensinadas quando éramos pequenos: “São frases ardentes e
singelas, dirigidas a Deus e à sua Mãe, que é nossa Mãe. Ainda hoje – recordava
o Bem-aventurado Josemaría Escrivá –, de manhã e à tarde, não um dia, mas
habitualmente, renovo aquele oferecimento de obras que os meus pais me
ensinaram: Ó Senhora minha, ó minha Mãe!, eu me ofereço todo a Vós. E, em
prova do meu afeto filial, vos consagro neste dia os meus olhos, os meus
ouvidos, a minha boca, o meu coração... Não será isto – de certa maneira –
um princípio de contemplação, demonstração evidente de confiado abandono?”13
A
oração Lembrai-vos, a Salve-Rainha..., encerram para muitos
cristãos a recordação e a candura da primeira vez em que as rezaram. Não
deixemos que essas belíssimas orações se percam; cumpramos o dever de
ensiná-las aos outros. De modo muito particular, podemos esmerar-nos nestes
dias da Novena na recitação do terço, pois tem sido recomendada com tanta
insistência pela Igreja.
O
Papa Pio IX encontrava-se no seu leito de morte, e um dos prelados que o
assistiam perguntou-lhe em que pensava naquelas horas supremas. E o Papa
respondeu-lhe: “Veja: estou contemplando docemente os quinze mistérios que
adornam as paredes desta sala, que são outros tantos quadros de consolo. Se
soubesse como me animam! Contemplando os mistérios gozosos, não me lembro das minhas
dores; pensando nos dolorosos, sinto-me extremamente confortado, pois vejo que
não estou sozinho no caminho da dor, mas que Cristo vai à minha frente; e
quando considero os gloriosos, sinto uma grande alegria, e parece-me que todas
as minhas penas se convertem em resplendores de glória. Como me consola o
rosário neste leito de morte!” E dirigindo-se depois aos que o rodeavam, disse:
“O rosário é um Evangelho compendiado e dará aos que o recitam os rios de
paz de que nos fala a Sagrada Escritura; é a devoção mais bela, mais rica
em graças e gratíssima ao coração de Maria. Seja este, meus filhos, o meu
testamento, para que vos lembreis de mim na terra”14.
Façamos
hoje o propósito de aproveitar melhor o tempo que dedicamos à meditação diária
e às orações vocais, especialmente ao terço, por meio do qual alcançaremos
graças sem conta para nós e para aqueles que queremos aproximar do Senhor.
(1) Lc 2, 19; (2) Lc 2, 51; (3) F. M. Moshner, Rosa mística, pág. 201; (4) cfr. Card. J. H. Newman, Rosa mística, pág. 79; (5) F. Suaréz,
A Virgem Nossa Senhora, pág.
246-247; (6) At 1, 14; (7) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 285; (8) cfr. Graduale Romanum, 1979, pág. 422; (9) Lc 22, 46; (10) São João
da Cruz, Cântico espiritual, 1,
8; (11) Conc. Vat. II, Const. Dei Verbum,
8; (12) cfr. F. M. Willam, Vida de
Maria, pág. 160; (13) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 296; (14) cfr. H. Marín, Doctrina Pontificia IV: Documentos marianos,
BAC, Madrid, 1954, n. 322.
NOVENA DA IMACULADA. 5 DE
DEZEMBRO. SEXTO DIA DA NOVENA
NOVENA DA IMACULADA.
5 DE
DEZEMBRO. SEXTO DIA DA NOVENA
50.
MÃE AMÁVEL
–
Jesus deu-nos a sua Mãe como Mãe nossa.
–
Mãe amável, acolhedora, de olhar misericordioso.
–
Aprender a tratar mais e melhor com Nossa Senhora.
I.
A VIRGEM CONVERTEU-SE em Mãe de todos os homens no momento em que consentiu
livremente em ser Mãe de Jesus, o primogênito entre muitos irmãos. Esta
maternidade de Maria é superior à maternidade natural humana1, pois ao dar à
luz corporalmente o seu Filho, Jesus Cristo, Cabeça do Corpo Místico que é a
Igreja, gerou espiritualmente todos os seus membros: “Ela é verdadeiramente –
afirma o Concílio Vaticano II – Mãe dos membros de Cristo [...] porque cooperou
pela caridade para que nascessem na Igreja os fiéis que são os membros desta
Cabeça”2.
Quando
Jesus foi pregado na Cruz, estavam junto dEle Maria, sua Mãe, São João, o
discípulo amado, e algumas santas mulheres. O Senhor dirigiu então à sua Mãe
essas palavras que tiveram e terão tanta transcendência na vida de todos os
homens, de cada um de nós: Mulher – disse à Virgem –, eis aí o teu filho.
Depois disse ao discípulo: Eis aí a tua Mãe3.
Impressiona-nos
ver Cristo esquecido de si: dos seus sofrimentos, da sua solidão. Comove-nos o
seu imenso amor à sua Mãe: não quer que fique só; vê a dor de Maria e assume-a
dentro do seu Coração, para oferecê-la também ao Pai pela redenção dos homens.
Comove-nos o gesto de Jesus para com todos os homens – bons e maus, mesmo os
endurecidos pelo pecado – representados em João. Dá-nos a sua Mãe como Mãe
nossa; olha para cada um de nós e diz-nos: Eis aí a tua Mãe, cuida bem dela,
recorre a Ela, aproveita esse dom inefável.
Nesses
momentos em que Jesus consumava a sua obra redentora, Maria uniu-se intimamente
ao seu sacrifício por uma cooperação mais direta e mais profunda na obra da
nossa salvação. A maternidade espiritual da Santíssima Virgem foi confirmada
pelo próprio Cristo na Cruz4.
Eis
aí o teu filho. “Esse foi o segundo Natal. Maria tinha dado à luz o seu Filho
primogênito sem dor alguma na gruta de Belém; agora dá à luz o seu segundo
filho, João, no meio das dores da Cruz. Nesse momento, Maria sofre as dores do
parto, não apenas por João, seu segundo filho, mas pelos milhões de outros
filhos seus que a chamariam Mãe ao longo dos tempos. Agora compreendemos por
que o Evangelista chamou a Jesus filho primogênito de Maria, não porque Ela
viesse a ter outros filhos da sua carne, mas porque geraria muitos outros com o
sangue do seu coração”5, com uma dor redentora, cheia de frutos, pois estava
unida ao sacrifício do seu Filho. Compreendemos bem que a maternidade de Maria
em relação a nós, sendo de uma ordem diversa, seja superior à maternidade das
mães na terra, pois Ela nos gera para uma vida sobrenatural e eterna.
Eis
aí o teu filho. Estas palavras produziram na alma da Virgem um aumento de
caridade, de amor materno por nós; e no coração de João, um amor filial
profundo e cheio de respeito pela Mãe de Deus. Este é o fundamento da nossa
devoção à Virgem.
Podemos
perguntar-nos neste dia da Novena qual é o lugar que a Virgem ocupa na nossa
vida. Temos sabido acolhê-la como João? Chamamo-la muitas vezes Mãe, minha
Mãe...? Tratamo-la bem?
II.
MATERNIDADE QUER DIZER solicitude e desvelo pelo filho. É o que acontece com a
Virgem em relação a todos os homens. Intercede por cada um de nós e obtém as
graças específicas e oportunas de que necessitamos. Jesus diz de si mesmo que é
o Bom Pastor que chama cada uma das suas ovelhas pelo seu nome, nominalmente6;
algo de parecido se passa com a Virgem, Mãe espiritual de cada um dos homens.
Assim como os filhos são diferentes e únicos para a sua mãe, da mesma maneira
cada um de nós é único para Santa Maria. Ela nos conhece bem, sabe
distinguir-nos de qualquer outro, chama-nos pelo nosso nome com um acento
inconfundível.
A
sua maternidade abarca a pessoa inteira, alma e corpo. Mas a sua ação maternal,
mesmo a que se exerce sobre o corpo, tem por fim “restaurar a vida sobrenatural
nas almas”7, a santidade, uma identificação mais perfeita com o seu Filho.
Nesta tarefa, a Virgem é a colaboradora por excelência do Espírito Santo, que é
quem dá a vida sobrenatural e a mantém.
A
maternidade de Maria não é a mesma para todos os homens. Maria é Mãe de um modo
excelente dos bem-aventurados do Céu, que já não podem perder a vida da graça.
É Mãe de modo perfeito dos cristãos em graça, porque têm a vida sobrenatural
completa. É Mãe daqueles que estão afastados de Deus pelo pecado mortal; com a
sua misericórdia, procura atraí-los continuamente para o seu Filho. E é Mãe
mesmo daqueles que não estão batizados, já que estão destinados à salvação,
pois Deus quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da
verdade8.
Mãe
por excelência, a Virgem tem sempre para nós um sorriso nos lábios, um gesto
acolhedor, um olhar que convida à confiança; sempre está disposta a entender o
que se passa no nosso coração; nEla devemos descarregar as nossas penas, aquilo
que mais nos pesa: “Fez-se tudo para todos; fez-se devedora dos sábios e dos
ignorantes, com uma copiosíssima caridade. Abre a todos o seu seio de
misericórdia, para que todos recebam da sua plenitude: redenção o cativo, saúde
o enfermo, consolação o aflito, perdão o pecador”9.
Talvez
em algumas ocasiões nos sintamos doentes da alma, e então recorreremos a quem é
Salus infirmorum, saúde dos enfermos, na certeza de não sermos rejeitados.
Nenhuma experiência, por mais dura e negativa que possa ser ou parecer, deve
desanimar-nos. Sempre encontraremos em Maria a Mãe amável, acolhedora, de olhar
misericordioso, que nos recebe com ternura e nos facilita – e até nos torna
mais curto – o caminho que perdemos. E se as dificuldades espirituais ou
corporais se intensificam, chamaremos por Ela com mais força, e Ela se
apressará a proteger-nos. “Mãe! – Chama-a bem alto, bem alto. – Ela, tua Mãe
Santa Maria, te escuta, te vê em perigo talvez, e te oferece, com a graça do
seu Filho, o consolo do seu regaço, a ternura das suas carícias. E te
encontrarás reconfortado para a nova luta”10.
III.
E DESSA HORA em diante, o discípulo recebeu-a em sua casa11. Que inveja temos
de São João! Como se encheu de luz aquele novo lar de Santa Maria! “Os autores
espirituais viram nessas palavras do Santo Evangelho um convite dirigido a
todos os cristãos para que todos saibamos também introduzir Maria em nossas
vidas. Em certo sentido, é um esclarecimento quase supérfluo, porque Maria quer
sem dúvida que a invoquemos, que nos aproximemos dEla com confiança, que
recorramos à sua maternidade, pedindo-lhe que se manifeste como nossa Mãe”12.
Talvez
possa ser este o nosso propósito para hoje: contemplar Nossa Senhora na casa de
São João, ver a extrema delicadeza com que o discípulo amado a trataria, as
confidências cheias de intimidade que lhe faria... E colocá-la na nossa vida:
fitá-la como o fazia o Apóstolo, recorrer a Ela em tudo com confiança filial,
amá-la como a amou São João.
Como
é fácil amar Santa Maria! Nunca, depois de Jesus, existiu nem existirá criatura
alguma mais amável. Já se disse de Santa Maria que Ela é como um sorriso do
Altíssimo. Nada de imperfeito, inacabado ou defeituoso encontramos no seu ser.
Não é alguém longínquo e inacessível: está muito perto da nossa vida diária,
conhece as nossas aflições, o que nos preocupa, aquilo de que precisamos... Não
tenhamos receio de exceder-nos no nosso amor a Maria, pois nunca chegaremos a
amá-la como a Santíssima Trindade a amou, a ponto de fazê-la Mãe de Cristo. Não
tenhamos receio de exceder-nos, pois sabemos que Ela é “um presente do Coração
de Jesus moribundo”13.
O
Senhor deseja que aprendamos a amá-la sempre mais; que tenhamos para com Ela os
pormenores de delicadeza e de amor que Ele teria no nosso lugar: jaculatórias,
olhares freqüentes às suas imagens – pode-se dizer tanto num olhar! –, atos de
desagravo pela indiferença de alguns dos seus filhos, a recitação amorosa do
Ângelus, do terço... “Entre todas as homenagens que podemos tributar a Maria –
afirma Santo Afonso Maria de Ligório –, não há nenhuma tão grata ao Coração da
nossa Mãe como a de implorarmos com freqüência a sua proteção maternal,
pedindo-lhe que nos assista em todas as nossas necessidades particulares, bem
como ao darmos ou recebermos um conselho, nos perigos, nas tribulações, nas
tentações... Esta boa Mãe livrar-nos-á certamente dos perigos logo que
recitemos a antífona Sub tuum praesidium (“Sob a vossa proteção nos acolhemos,
Santa Mãe de Deus”...), ou a Ave-Maria, ou mal invoquemos o seu santo nome, que
tem um poder especial contra os demônios”14. Maria, como todas as mães,
experimenta uma especial alegria em atender os seus filhos necessitados.
Sabemos
que, “depois da peregrinação neste desterro, estarão à nossa espera os seus
olhos misericordiosos e os seus braços, entre os quais encontraremos, num laço
indissolúvel, o fruto do seu ventre, Jesus, que conquistou a glória para si,
para a sua Mãe e para todos os irmãos que se acolhem à sua misericórdia”15.
Sancta
Maria, Mater amabilis, ora pro eis... ora por me. Ensina-me a querer-te cada
dia um pouco mais.
(1) Cfr. R. Garrigou-Lagrange, La
Madre del Salvador, pág. 219; (2) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 53; (3)
Jo 19, 27; (4) João Paulo II, Enc. Redemptoris missio, 7-XII-1990, n. 23; (5)
F. J. Sheen, Desde la Cruz, Subirana, Barcelona, 1965, pág. 18; (6) cfr. Jo 10,
3; (7) cfr. Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 61; (8) cfr. J. Ibañez-F.
Mendoza, La Madre del Redentor, págs. 237-238; (9) São Bernardo, Homilia na
oitava da Assunção, 2; (10) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 516; (11) Jo 19, 27;
(12) Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 140; (13) cfr. Pio XII, Enc.
Haurietis aquas, 15-V-1956, 21; (14) Santo Afonso Maria de Ligório, As glórias
de Maria, III, 9; (15) L. M. Herrán, Nuestra Madre del Cielo, 2ª ed., Palabra,
Madrid, 1988, pág. 102.
(WEBSITE DE FRANCISCO FERNÁNDEZ CARVAJAL)
NOVENA DA IMACULADA. 6 DE
DEZEMBRO. SÉTIMO DIA DA NOVENA
52. REFÚGIO DOS PECADORES
– A Virgem e o sacramento da Penitência.
– A sua atitude misericordiosa
para com os pecadores.
– Nosso refúgio.
I. AVE, CHEIA DE GRAÇA, és
chamada clementíssima para com os pecadores porque contemplas misericordiosa a
nossa miséria1.
Em alguns lugares, desde tempos
imemorais, foi costume representar Nossa Senhora com um grande manto debaixo do
qual se encontra todo o gênero de pessoas com um rosto cheio de paz: papas e
reis, comerciantes e camponeses, homens e mulheres... Alguns, que não se
abrigaram bem debaixo desse manto protetor, têm alguma parte do corpo
atravessada por uma flecha: o preguiçoso é representado sentado e com uma
flecha na perna, o guloso com um prato na mão e a flecha na barriga...2
Refugium peccatorum: desde
sempre, os cristãos viram a Santíssima Virgem como amparo e refúgio dos
pecadores, para onde corremos, como que por instinto, nos momentos de maior
tentação ou dificuldade, ou quando talvez não tenhamos sido fiéis ao Senhor.
Ela é o atalho que nos facilita o retorno a Jesus.
Nos primeiros séculos da nossa
fé, os Santos Padres, ao tratarem do mistério da Encarnação do Verbo, afirmavam
com freqüência que o seio virginal de Maria foi o lugar em que se selou a paz
entre Deus e os homens. Pela sua especialíssima união com Cristo, a Virgem
exerce uma maternidade em relação aos homens que consiste em “contribuir para a
restauração da vida sobrenatural nas almas”3; por essa maternidade, ocupa Ela
um lugar totalmente especial no plano pensado por Deus para livrar o mundo dos
seus pecados. Para isso, “consagrou-se totalmente como escrava do Senhor à
Pessoa e à obra do seu Filho, servindo sob Ele e com Ele o mistério da
Redenção”4; esteve associada à expiação de Cristo por todos os pecados do
mundo, padeceu com Ele e foi corredentora em todos os momentos da vida de Jesus
e de modo especial no Calvário, onde ofereceu o seu Filho ao Pai e se ofereceu
juntamente com Ele: “Verdadeiramente, em virtude da sua maternidade divina,
Maria converteu-se na aliada de Deus na obra da reconciliação”5. Por isso,
muitos teólogos costumam comentar que a Virgem se encontra de algum modo
presente na Confissão sacramental, em que nos são concedidas particularmente as
graças da Redenção. “Se alguém separa do sacramento da penitência a coexpiação
de Maria, introduz entre Ela e Cristo uma divisão que nunca existiu nem pode
ser admitida [...], já que é o próprio Cristo quem assume na sua expiação toda
a cooperação expiatória da sua Mãe”6.
Maria encontra-se sempre muito
perto da Confissão: está presente no caminho que leva a esse sacramento, preparando
a alma para que se aproxime dele com humildade, sinceridade e arrependimento.
Exerce um trabalho maternal importantíssimo, facilitando o caminho da
sinceridade e conduzindo suavemente a essa fonte de graça. Se alguma vez as
faltas cometidas nos envergonham particularmente, Ela é o primeiro Refúgio para
o qual devemos correr, certos de que, pouco a pouco, com a sua graça maternal,
se tornará fácil o que a princípio era difícil. Se um filho se afasta da casa
paterna, que mãe não estará disposta a facilitar-lhe o regresso? “A Mãe de
Deus, que buscou afanosamente o seu Filho, perdido sem culpa dEla, que
experimentou a maior alegria ao encontrá-lo, ajudar-nos-á a desandar o andado,
a retificar o que for preciso quando pelas nossas leviandades ou pecados não
conseguirmos distinguir Cristo. Alcançaremos assim a alegria de abraçá-lo de
novo, para lhe dizer que nunca mais o perderemos”7.
Santa Maria, Refúgio dos
pecadores, nosso refúgio, dai-nos o instinto certeiro de recorrer a Vós quando
nos afastarmos do amor do vosso Filho. Dai-nos o dom da contrição.
II. SANTA MARIA, Mãe de Deus,
rogai por nós, pecadores...
O perdão sempre é possível. O
Senhor deseja a nossa salvação e a limpeza da nossa alma mais do que nós
mesmos. Deus é todo-poderoso, é nosso Pai e é Amor. E Jesus diz a todos, e a
nós também: Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores8. Ele chama-nos – com
mais força nesta novena – para que, com a ajuda da sua Mãe, nos desapeguemos do
egoísmo, dos pequenos rancores, das faltas de amor, dos juízos precipitados
sobre os outros, das faltas de desprendimento...
Devemos aproximar-nos da grande
festa de Nossa Senhora com um coração mais limpo. Na intimidade do nosso
coração, devemos sentir esse convite divino a uma maior pureza interior. Uma
tradição muito antiga relata uma aparição do Senhor a São Jerônimo: “Jerônimo,
que me vais dar?” E o santo respondeu: “Oferecer-te-ei os meus escritos”. E
Cristo respondeu-lhe que não era suficiente. “Que entregarei então? A minha
vida de mortificação e penitência?” A resposta foi: “Também não me bastam”.
“Que me fica por dar-te?”, perguntou São Jerônimo. E Cristo respondeu-lhe:
“Podes dar-me os teus pecados, Jerônimo”9. Às vezes, pode custar-nos reconhecer
diante de Deus os nossos pecados, fraquezas e erros, deixá-los nas suas mãos
sem nenhum invólucro, como são, sem justificações, com sinceridade de coração,
chamando cada coisa pelo seu nome. Deus toma-os porque são o que nos separa
dEle e dos outros, o que nos faz sofrer, o que impede uma verdadeira vida de
oração. Deus deseja-os para destruí-los, para perdoá-los e dar-nos em troca uma
fonte de Vida.
É surpreendente, gozosamente
surpreendente, a insistência com que Jesus chama os pecadores, pois o Filho do
homem veio salvar o que tinha perecido10. Essa atitude misericordiosa foi a que
fez com que o conhecessem muitos dos que viveram perto dEle: Os escribas e
fariseus murmuravam e diziam: Ele recebe os pecadores e come com eles11. E,
ante o assombro de todos, livra a mulher adúltera da humilhação a que estava
sendo submetida, e depois despede-a, perdoada, com estas simples palavras: Vai
e não peques mais12. Jesus é sempre assim. Nunca nos passe pela cabeça –
recomendava o Cardeal Newman – a idéia de que Deus é um amo duro, severo13.
Esta é a imagem que pode formar quem se comportasse dessa maneira – áspera e
friamente, ou mostrando-se incomodado – ante as ofensas alheias. Mas Deus não é
assim: quanto pior é a nossa situação, mais Ele nos ama, mais nos procura.
Ensina Santo Afonso Maria de
Ligório que a principal missão confiada por Deus à Virgem foi exercer a
misericórdia, e que Maria põe todas as suas prerrogativas a serviço dessa
tarefa14.
A missão de Maria não é aplacar a
justiça divina. Deus é sempre bom e misericordioso. A missão de Nossa Senhora é
a de preparar o nosso coração para que possamos receber as inumeráveis graças
que o Senhor nos quer dar. “Não será Maria um suave e poderoso estímulo para
superarmos as dificuldades inerentes à Confissão sacramental? Não é verdade que
Ela nos convida a aceitar essas dificuldades para transformá-las em meio de
expiação das nossas culpas e das alheias?”15 Recorramos sempre ao seu auxílio
enquanto nos preparamos para receber esse sacramento.
Santa Maria, “Esperança nossa,
olhai-nos com compaixão, ensinai-nos a ir continuamente a Jesus e, se caímos,
ajudai-nos a levantar-nos, a voltar para Ele, mediante a confissão das nossas
culpas e pecados no Sacramento da Penitência, que traz sossego à alma”16.
III. SANCTA MARIA, refugium
nostrum et virtus... Refúgio e fortaleza nossa.
A palavra refúgio vem do latim
fugere, fugir de algo ou alguém... Quando procuramos um refúgio, fugimos do
frio, da escuridão da noite, de uma tempestade; procuramos segurança, abrigo.
Quando recorremos a Nossa Senhora, encontramos a única proteção verdadeira
contra as tentações, o desânimo, a solidão... Muitas vezes, o simples fato de
começarmos a rezar-lhe é suficiente para que a tentação desapareça e
recuperemos a paz e o otimismo. Se em algum momento as dificuldades se avolumam
e as tentações se tornam mais fortes, devemos correr rapidamente a abrigar-nos
sob o manto de Nossa Senhora. “Todos os pecados da tua vida parecem ter-se
posto de pé. – Não desanimes. Pelo contrário, chama por tua Mãe, Santa Maria,
com fé e abandono de criança. Ela trará o sossego à tua alma”17.
NEla encontramos sempre abrigo e
proteção. Ela “consola o nosso temor, move a nossa fé, fortalece a nossa
esperança, dissipa os nossos temores e anima a nossa pusilanimidade”18. Os seus
filhos, logo que percebem o seu amor de Mãe, refugiam-se nEla implorando
perdão; “ao contemplarem a sua beleza espiritual, esforçam-se por livrar-se da
fealdade do pecado, e, ao meditarem nas suas palavras e exemplos, sentem-se
chamados a cumprir os preceitos do seu Filho”19.
Minha Mãe, Refúgio dos pecadores,
ensina-nos a reconhecer os nossos pecados e a arrepender-nos deles. Vem ao
nosso encontro quando for difícil o caminho de volta para o teu Filho, quando
nos sentirmos perdidos.
(1) Missas da Virgem Maria, n.
14; Antífona de entrada da Missa Mãe da reconciliação; (2) cfr. M. Trens,
María. Iconografia de la Virgen en el arte español, pág. 274 e segs.; (3) Conc.
Vat. II, Const. Lumen gentium, 61; (4) ib., 56; (5) João Paulo II, Exort.
Apost. Reconciliatio et Paenitentia, 2-XII-1984, n. 35; (6) A. Bandera, La
Virgen Maria y los sacramentos, Rialp, Madrid, 1978, pág. 173; (7) Josemaría
Escrivá, Amigos de Deus, n. 278; (8) Mt 9, 13; (9) cfr. F. J. Sheen, Desde la
cruz, pág. 16; (10) Mt 18, 11; (11) Mt 11, 19; (12) Jo 8, 11; (13) Card. J. H.
Newman, Sermão para o IV domingo depois da Epifania; (14) Santo Afonso Maria de
Ligório, As glórias de Maria, VI, 3, 5; (15) A. Bandera, op. cit., págs.
179-180; (16) João Paulo II, Oração à Virgem de Guadalupe, janeiro de 1979;
(17) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 498; (18) São Bernardo, Homilia na
Natividade da B. Virgem Maria, 7; (19) cfr. Missas da Virgem Maria, n. 14;
Prefácio da Missa Mãe da reconciliação.
(WEBSITE DE FRANCISCO FERNÁNDEZ CARVAJAL)
NOVENA DA IMACULADA. 7 DE DEZEMBRO. OITAVO DIA DA NOVENA
53. PORTA DO CÉU
– Por meio de Maria, sempre encontramos Jesus.
– A intercessão de Nossa Senhora.
– A devoção à Virgem, sinal de predestinação.
I. AVE, MARIS STELLA, / Dei Mater alma, / atque semper Virgo, / felix caeli porta. “Ave, estrela do mar, / Mãe santa de Deus, / e sempre Virgem, / feliz porta do Céu”1.
Ianua caeli, Porta do Céu, assim a temos invocado tantas vezes na ladainha do terço. Maria é a entrada e o acesso a Deus, é a Porta oriental do Templo2
de que fala o Profeta, porque por Ela chegou-nos Jesus, o Sol da
justiça. E é, ao mesmo tempo, “a porta dourada do Céu pela qual
confiamos entrar um dia no descanso da eterna bem-aventurança”3. Por meio de Maria, sempre encontramos Jesus.
Às vezes, os homens percorrem mil caminhos
extraviados, procurando a Deus com nostalgia; tentam chegar até Ele à
força de braçadas, de complicadas especulações, e esquecem essa entrada
simples que é Maria, “que nos conduz ao interior do Céu da convivência
com Deus”4.
Conta-se de frei Leão, um leigo que acompanhava sempre
São Francisco de Assis, que, depois da morte do Santo, depositava todos
os dias sobre o seu túmulo um punhado de ervas e flores e meditava
sobre as verdades eternas. Certo dia, adormeceu e teve uma visão do dia
do Juízo. Viu que se abria uma janela no Céu e aparecia Jesus, o amável
Juiz, acompanhado de São Francisco. Fizeram descer uma escada vermelha,
que tinha os degraus muito espaçados, de tal maneira que era impossível
subir por ela. Todos tentavam e pouquíssimos conseguiam subir. Ao cabo
de um certo tempo, e como subisse da terra um grande clamor, abriu-se
outra janela, à qual apareceram novamente Jesus e São Francisco, mas com
a Virgem ao lado do Senhor. Lançaram outra escada, mas esta era branca e
tinha os degraus mais juntos. E todos, com imensa alegria, iam subindo.
Quando alguém se sentia especialmente fraco, Santa Maria animava-o
chamando-o pelo nome e enviando algum dos anjos que a serviam para que o
ajudasse. E assim todos foram subindo, um atrás do outro5.
Não deixa de ser uma lenda piedosa, que no entanto nos ensina uma
verdade essencial e consoladora, conhecida desde sempre pelo povo
cristão: com a Virgem, a santidade e a salvação tornam-se mais fáceis.
Sem a Virgem, tudo se torna não só mais difícil, como talvez impossível,
pois Deus quis que Ela fosse “a dispensadora de todos os tesouros que
Jesus conquistou com o seu Sangue e a sua Morte”6.
A Virgem não é apenas a porta do Céu – Ianua caeli
–, mas também uma ajuda poderosíssima para que o alcancemos. Pois,
“assunta aos céus, não abandonou esta missão salvífica, mas pela sua
múltipla intercessão continua a granjear-nos os dons da salvação eterna.
Pela sua maternal caridade, cuida dos irmãos do seu Filho que ainda
peregrinam rodeados de perigos e dificuldades, até que sejam conduzidos à
Pátria bem-aventurada. Por isso, a Santíssima Virgem Maria é invocada
na Igreja sob os títulos de Advogada, Auxiliadora, Socorro, Medianeira”7.
Por vontade divina, a Santíssima Virgem é a Medianeira perante o Mediador, a quem está subordinada, como ensina São Bernardo8.
Todas as graças nos chegam através das mãos de Maria, de tal maneira
que, como afirmam muitos teólogos, Cristo não nos concede nada a não ser
por meio de Nossa Senhora. E Ela está sempre disposta a conceder-nos
tudo o que lhe queiramos pedir e possa ser útil à nossa salvação. Oxalá
os nossos pedidos não sejam tímidos durante esta Novena.
II. SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO afirma que Maria é a Porta do Céu
porque, da mesma forma que todas as graças e indultos que os reis
concedem passam pela porta do seu palácio, de igual modo nenhuma graça
desce do Céu à terra sem passar pelas mãos de Maria9.
Já na sua vida terrena, Nossa Senhora aparece como a
dispensadora das graças. Por Ela, Jesus santifica o Precursor quando a
Virgem visita a sua prima Isabel. Em Caná, a pedido de Maria, Jesus
realiza o seu primeiro milagre, convertendo a água em vinho; e é ali
também, em conseqüência desse milagre, que os discípulos do Senhor
passam a crer nEle10. A Igreja começa o
seu caminho, através da história dos homens e dos povos, no dia de
Pentecostes, e “sabe-se que Maria está presente no começo desse caminho,
pois vemo-la no meio dos Apóstolos no Cenáculo de Jerusalém,
«implorando com as suas orações o dom do Espírito Santo»”11.
Pela sua intercessão, Maria alcança-nos e
distribui-nos todas as graças, mediante súplicas ao seu Filho que não
podem cair no vazio. Esta intercessão é ainda maior depois da sua
Assunção ao Céu e depois de ter sido elevada em dignidade acima dos
anjos e dos arcanjos. A Virgem distribui-nos a água da fonte, não toda
de uma vez – afirma São Bernardo –, mas fazendo cair a graça gota a gota
sobre os nossos corações ressecados, na medida da nossa capacidade12.
Ela conhece perfeitamente as nossas dificuldades e concede-nos as
graças de que necessitamos. Só a nossa má vontade pode impedir que essas
graças cheguem até à nossa alma.
Pelo conhecimento que possui das necessidades
espirituais e materiais de cada um dos seus filhos, Nossa Senhora,
levada pela sua imensa caridade, intercede constantemente por nós. E
muito mais quando lhe dirigimos com insistência as nossas súplicas.
Noutros casos, porém, deixamos por completo nas suas mãos a solução dos
problemas que nos afligem, convencidos de que Ela sabe melhor do que nós
o que nos convém: “Minha Mãe... vês que necessito disto e daquilo...,
que este amigo, este irmão, este filho... estão longe da casa
paterna...” NEla se dão em plenitude as palavras de Jesus no Evangelho: Todo aquele que pede, recebe; e aquele que busca, encontra; e a quem bate, abrir-se-á13.
Como pode Nossa Senhora deixar-nos à porta quando lhe pedimos que no-la
abra? Como não há de socorrer-nos se nos vê tão necessitados?
III. IANUA CAELI, ora pro eis..., ora pro me.
O título de Porta do Céu convém à Virgem pela
sua íntima união com o seu Filho e pela sua participação na plenitude de
poder e de misericórdia que deriva de Cristo, Nosso Senhor. Jesus
Cristo é, por direito próprio e principal, o caminho e a entrada para a
glória, pois com a sua Paixão e Morte abriu-nos as portas do Céu que
antes estavam fechadas. Mas chamamos a Maria Porta do Céu porque,
com a sua intercessão onipotente, nos proporciona os auxílios
necessários para alcançarmos as graças que Cristo nos mereceu e irmos
até o trono de Deus14, onde nos espera o nosso Pai.
Além disso, já que por essa porta celestial nos chegou
Jesus, iremos a Ela para encontrá-lo, pois “Maria é sempre o caminho
que conduz a Cristo. Cada encontro com Ela é necessariamente um encontro
com o próprio Cristo. Que outra coisa significa o contínuo recurso a
Maria senão buscar nos seus braços, nEla, por Ela e com Ela, o nosso
Salvador, Jesus Cristo?”15 Sempre, como os Magos em Belém, encontramos Jesus com Maria, sua Mãe16. Esta é a razão por que já se disse em tantas ocasiões que a devoção à Virgem é sinal de predestinação17.
Ela cuida de que os seus filhos encontrem o caminho que leva à casa do
Pai. E se alguma vez nos desviamos, utilizará os seus recursos poderosos
para que retornemos ao bom caminho, e nos estenderá a mão para que não
nos desviemos novamente. E se caímos, levantar-nos-á; e arrumar-nos-á
uma vez mais para que estejamos apresentáveis na presença do seu Filho.
A intercessão da Virgem é maior do que a de todos os
santos juntos, pois os outros santos nada obtêm sem Ela. A mediação dos
santos depende da de Maria, que é universal e sempre subordinada à do
seu Filho. Além disso, as graças que a Virgem nos obtém foram merecidas
por Ela pela sua profunda identificação com a Paixão e Morte de Cristo.
Com a sua ajuda, entraremos na casa do Pai.
Com esses pequenos atos de amor que lhe estamos
oferecendo nestes dias, não podemos nem sequer imaginar a chuva de
graças que vem derramando sobre cada um de nós, sobre as pessoas que
pusemos sob os seus cuidados e sobre toda a Igreja. “As mães não
contabilizam os pormenores de carinho que os seus filhos lhe demonstram;
nada pensam ou medem com critérios mesquinhos. Uma pequena manifestação
de carinho, elas a saboreiam como mel, e extravasam-se, concedendo
muito mais do que recebem. Se assim reagem as mães boas da terra,
imaginai o que poderemos esperar da Nossa Mãe Santa Maria”18. Não nos separemos dEla; não deixemos um só dia de recorrer à sua proteção maternal.
(1) Hino Ave, Maris stella; (2) Ez 44, 1; (3) Bento XIV, Bula Gloriosae Dominae, 27-IX-1748; (4) F. M. Moshner, Rosa mística, pág. 240; (5) cfr. Vita Fratris Leonis, em Analecta Franciscana, III, I; (6) São Pio X, Enc. Ad diem illum, 2-II-1904; (7) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 62; (8) São Bernardo, Sermão sobre as doze prerrogativas da B. Virgem Maria, em Suma Aurea, VI, 996; (9) Santo Afonso Maria de Ligório, As glórias de Maria, I, 5, 7; (10) cfr. Jo 2, 11; (11) João Paulo II, Enc. Redemptoris Mater, 25-III-1987, n. 26; (12) cfr. São Bernardo, Homilia na Natividade da B. Virgem Maria, 3, 5; (13) Mt 7, 8; (14) cfr. Card. Gomá, Maria Santíssima, vol. II, págs. 162-163; (15) Paulo VI, Enc. Mense Maio, 29-IV-1965; (16) cfr. Mt 2, 11; (17) cfr. Pio XII, Enc. Mediator Dei, 20-II-1947; (18) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 280.
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o
ano de 2015 será dedicado
à
vida consagrada
Homens e mulheres que despertam o mundo
«Homens e mulheres que despertam o mundo»:
para descrever a missão dos religiosos no mundo contemporâneo o Papa Francisco
escolheu esta imagem significativa, anunciando que o ano de 2015 será dedicado
à vida consagrada. Foi anunciado por um comunicado da União dos superiores
gerais (Usg), no final da audiência pontifícia que teve lugar na manhã de
sexta-feira, 29 de Novembro, na Sala do Sínodo.
A Liturgia das Horas nos torna participantes na jornada do louvor e da ação de graças que, no Espírito, Cristo oferece ao Pai com a sua Esposa, a Igreja. (Regra de Vida) |
A radicalidade é exigida a todos os
cristãos, afirmou o Pontífice, mas os religiosos são chamados a seguir o Senhor
de modo especial: «são homens e mulheres
que podem despertar o mundo. A vida consagrada é profecia. Deus pede-nos para
sair do nicho que nos contém para irmos às fronteiras do mundo, evitando a tentação
de as domesticar. É este o modo mais concreto de imitar o Senhor.
Entrega do anel na Consagração Perpétua |
À pergunta sobre a situação das vocações,
o Papa sublinhou que existem Igrejas jovens que estão a dar frutos renovados.
Isto obriga a reconsiderar a inculturação do carisma. O diálogo intercultural
deve estimular a introduzir no governo das instituições religiosas pessoas de
várias culturas que expressem modos diversos de viver o carisma.
Unidas às vozes de toda a criação e da Igreja, celebramos a Santa Liturgia com intensa devoção, «sabendo realizar uma suplência por aqueles que a transcuram». (Regra de Vida) |
Por conseguinte, o Papa insistiu sobre a
formação que a seu parecer se baseia em quatro pilares fundamentais: formação
espiritual, intelectual, comunitária e apostólica. É imprescindível evitar qualquer
forma de hipocrisia e clericalismo através de um diálogo sincero e aberto sobre
todos os aspectos da vida: «a formação é uma obra artesanal, não policial –
afirmou – e o objetivo é formar religiosos que tenham um coração terno e não
azedo como o vinagre. Todos somos pecadores, mas não corruptos. Aceitem-se os
pecadores, mas não os corruptos».
«Na
comunidade devem reinar a
alegria, o afeto,
a fraternidade e a
compaixão». (Regra de Vida)
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Questionado sobre a fraternidade, o
Pontífice afirmou que ela tem uma grande força de atração. Supõe a aceitação
das diferenças e dos conflitos. Por vezes é difícil vivê-la, mas se não a
vivermos não seremos fecundos. Contudo «nunca devemos comportar-nos como
gerentes face a um conflito de um irmão: é preciso acariciar o conflito.
Cada
Serva imita a atitude de abandono de Jesus no Getsêmani,
com uma amorosa aceitação da vontade divina expressa nas palavras: «Pai, não a
minha, mas a tua vontade seja feita». (Regra de Vida)
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Por fim foram feitas algumas perguntas
sobre as relações entre os religiosos e as Igrejas particulares nas quais eles
estão inseridos. O Santo Padre afirmou que conhece por experiência os possíveis
problemas: «nós, bispos, devemos
compreender que as pessoas consagradas não são material de ajuda, mas são
carismas que enriquecem as dioceses».
Cada Serva sente-se empenhada a fazer da sua vida uma oferta com Cristo ao Pai, no Espírito Santo, pelos sacerdotes. (Regra de Vida) |
As últimas perguntas referiram-se às
fronteiras da missão dos consagrados.
«Elas devem ser procuradas com base nos carismas», respondeu o Papa. Em
paralelo com estes desafios citou o cultural e o educativo nas escolas e nas
universidades. Por fim, deixando a sala
o Pontífice afirmou: «Obrigado pelo vosso testemunho e também pelas humilhações
que sofreis».
2013-11-30
L’Osservatore Romano